sábado, 24 de outubro de 2015

O BRINCAR E A LINGUAGEM, PONTES PARA SER REALMENTE HUMANO

Publicado por Maria Célia Becattini
24 DE OUTUBRO DE 2015


O BRINCAR E A LINGUAGEM
Pontes para ser realmente humano

Rosemeire Laviano
Fonte: www.idwaldorf.com.br – clique e conheça



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“As crianças que brincam livremente, que criam suas brincadeiras, que possuem contato diário com a natureza, recebem contato interessado e amoroso dos adultos certamente são mais inteligentes, capazes de não só nomear, mas de perceber, estabelecer relações e interagir no ambiente sensorial e emocional. Enfim perceber a si, o outro e o ambiente. A natureza programou todas estas etapas com cuidado e elas necessitam de tempo para acontecerem. A primeira infância é tempo de perceber, ouvir canções e histórias, brincar, cantar… É tempo de intenso movimento! Precisamos confiar nas forças que nela atuam, esperar que ela cresça até que tudo esteja amadurecido e pronto.”



Quando vemos uma criança muitas vezes temos a sensação de estarmos diante de um ser tão simples. Sequer nos damos conta dos processos interiores e exteriores que a criança vive e que determinarão seu desenvolvimento.

Parece que para nós basta que ela cresça.

Para que uma criança se desenvolva de maneira saudável, muitos aspectos devem ser considerados: alimentação, sono, ritmo, afeto e brincar.

Podemos considerar que por um lado, seu desenvolvimento é determinado pelos cuidados e pelo ambiente externo. Por outro lado, em toda criança reside a força de crescer e se desenvolver que fluem de dentro para fora. O brincar possui especialmente esta característica. Através do impulso de brincar a criança descobre o mundo exterior e também se reconhece no mundo.

O mundo exterior é composto de tudo que está ao redor da criança (objetos e natureza) além das pessoas e seres que a
circundam. Através deles e se relacionando com eles a criança aprende. Dois fatores vamos agora considerar nesse processo de aprendizagem: o movimento e a linguagem.

Quando pensamos em uma criança brincando logo nos vem à cabeça que ela está em movimento. Sua essência é volitiva desde a vida intra-uterina e é exatamente de maneira volitiva que a criança vai apreender o mundo através de seus sentidos e se inserir neste mundo como individualidade. Especialmente durante os sete primeiros anos de vida a criança precisa do movimento para se desenvolver corretamente. Para se inserir e lidar corretamente com as leis da natureza ela precisa mover-se.

Neste constante movimento, aparentemente um simples brincar, milhões de processos ocorrem e levam ao amadurecimento dos sistemas neurosensorial, rítmico e motor. Através do pegar, subir, correr, pular, etc, habilidades são conquistadas para o resto da vida tais como definição de dominância lateral, equilíbrio, geografia corporal, orientação espacial, entre tantos outros.

É ao mesmo tempo encontrar a si mesmo e encontrar o mundo, pura descoberta. Do ponto de vista da linguagem o processo de aprendizagem também já se inicia na vida intra-uterina. As reações aos fonemas ouvidos pela criança já podem ser observadas.

O choro, os gritinhos e o balbucio são a linguagem dos bebês. Daí em diante há um mundo repleto de substantivos, adjetivos e verbos que vão se integrando ao vocabulário da criança nesse mesmo processo de apreender o mundo e se inserir nele.

As capacidades de falar, usar a língua materna e se comunicar através da linguagem são essenciais nesta fase, tão desafiadores quanto pular, correr, subir, descer… A progressão natural para essa grande aprendizagem passa por escutar, cantar, falar, desenhar, escrever e depois ler. Precisamos lembrar que o cantar antecede o falar as palavras. Um bebê pode cantarolar imitando. Muitas vezes ao querer um objeto ele aponta para ele fazendo sons que ainda não se constituem em palavras, faz um gesto que já comunica, um rudimento de linguagem.

As estruturas mentais que a criança vai movendo e criando na sua comunicação são as sementes para o desenvolvimento da
capacidade de formular pensamentos e fazer uso da linguagem. Através da linguagem ela poderá denominar, reconhecer, criar, se expressar e estabelecer relações como ser humano. Sentimentos e intenções podem ser comunicados através da habilidade de utilizar e combinar palavras que vivem no mundo ao seu redor.

A grande questão aqui é como ocorre a intersecção entre brincar e linguagem?

A linguagem existe como um ser e a criança, tanto quanto no brincar necessita se mover dentro dela para que a apreenda.

“A linguagem é uma força que modela nossa realidade, assim como a realidade modela a linguagem” – Pearce, Joseph C.
(pág. 135,1992)

Por incrível que pareça, ocorre uma reação muscular automática aos sons dos fonemas que a criança ouve. Ao ouvir uma pessoa falando nós imitamos todos os movimentos por ela produzidos em seu aparelho fonador, inclusive os músculos da laringe, através de micro movimentos em nosso próprio aparelho fonador. Na criança isto ocorre de maneira generalizada, todo seu corpo se move reagindo aos fonemas ouvidos. Toda sua percepção é orientada pelos sons
ouvidos e seus músculos fazem movimentos de reação. Assim, as palavras podem sincronizar a percepção sensorial e os músculos, organizando campos neurais que geram estruturas de conhecimento.

A capacidade de falar é essencialmente humana, cria pontes entre um ser humano e outro. Através mesmo dos fonemas, um campo emocional se cria gerando diferentes reações emocionais e movimentos. As palavras possuem uma força extraordinária pois além de dar nomes às coisas, carregam em si estados emocionais e invocam acontecimentos.

Uma criança bem nutrida de palavras consegue estabelecer um vínculo saudável com o adulto e desenvolve um vocabulário melhor.

Quando uma criança começa a falar reconhece um objeto e o nomeia. Por enquanto ainda é preciso que o objeto esteja diante dela para que se recorde. Depois ela pode começar a pedir e desejar que o objeto apareça, significa que ela já faz memória. Tudo isso é a base para o desenvolvimento do pensar que passa pelas percepções e pela linguagem.

Para a criança pequena pensar é lembrar por meio de imagens. Imaginação e criatividade são a base da aprendizagem pelo uso da linguagem. A palavra e a imagem são parte do mundo e a criança pequena possui a capacidade de criar imagens interiores enquanto brinca.

É comum vermos crianças conversando durante uma brincadeira e muitas vezes ocorre que elas falam sozinhas. Essa necessidade se dá neste processo de percepção, organização do movimento, das palavras, de seus significados e do uso da linguagem que leva à aprendizagem.

A linguagem é a base da inteligência e das relações e seu desenvolvimento passa por estágios, como degraus, até que o ser humano possa abstrair e reconhecer fórmulas matemáticas, físicas e regras gramaticais.

O pensamento concreto antecede o pensamento abstrato. Uma criança antes dos sete anos não necessita nem pode ficar sentada para ser alfabetizada e instruída acerca dos números e das letras. Mais importante do que isso é ela ter a possibilidade de brincar. A consciência fonológica inicia-se neste período, a criança torna-se capaz de repetir, reconhecer, associar, comparar, separar e criar sons (sílabas e fonemas) para depois movê-los e transpô-los. As histórias e brincadeiras cantadas que tanto alegram a infância, cheias de beleza, musicalidade, ritmo, rimas, poesias, trava língua, etc são meios através dos quais a criança adquire a consciência fonológica. Assim brincando, a criança cria habilidades de comunicação através do uso da fala que é característica essencialmente humana.

Os sons criam movimento e dão forma, essa é a tarefa da palavra falada e ouvida, da língua materna e da linguagem na realidade de uma criança que pode ser resumida em brincar. O brincar, pleno de movimento, ativa, movimenta e amplia a capacidade de falar e de organizar pensamentos por meio da fala. O brincar alimenta a linguagem e vice-versa.

Na passagem por estes estágios é necessário nutrir o ser humano, no caso da criança especialmente favorecer o brincar. Os brinquedos eletrônicos e o uso da tecnologia são fatores que dificultam, mecanizam e criam deficiência linguística.

As crianças que brincam livremente, que criam suas brincadeiras, que possuem contato diário com a natureza, recebem contato interessado e amoroso dos adultos certamente são mais inteligentes, capazes de não só nomear, mas de perceber, estabelecer relações e interagir no ambiente sensorial e emocional. Enfim perceber a si, o outro e o ambiente.

A natureza programou todas estas etapas com cuidado e elas necessitam de tempo para acontecerem. A primeira infância é tempo de perceber, ouvir canções e histórias, brincar, cantar… É tempo de intenso movimento! Precisamos confiar nas forças que nela atuam, esperar que ela cresça até que tudo esteja amadurecido e pronto.

segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Como favorecer o amor próprio/autoestima das crianças

Publicado por Maria Célia Becattini




"Uma amiga partilhou este artigo comigo. A autoria é da psicóloga Katerina Kes, especializada em infância e família.
Diz a autora que responder com um sim sim, está muito bem não adianta de muito. Está também provado que os elogios do género: és tão esperto, és tão inteligente, és tão giro fazem com que a criança/adolescente fique com medo de arriscar, com medo de falhar (o que é não só inevitável como necessário!), de não corresponder à imagem que lhe dão dela.
Qual a alternativa?
Reforçar a confiança em si mesma, promover o amor próprio, a confiança, o esforço, o processo e não o resultado.
Como? Aqui estão umas frases para ajudar.

Descreve o que vês diariamente:
Uau, que quarto arrumado e limpo!
Ena, fizeste a cama!
Estou a ver que arrumaste os livros todos na prateleira!
Que pinta, escolheste a roupa e vestiste-te sozinho!
Estou a ver que está a dar gozo desenhar!
Ena, que cores tão vivas que estás a usar!
Descreve o que sentes:
Gosto muito de estar contigo
Fico muito feliz por estar em casa contigo
Dá-me muito gozo passar tempo contigo
Sinto-me muito bem quando me ajudas
Gosto de te ouvir dizer isso
Gosto tanto que estejas aqui
Nós fazemos uma equipa
Mostra-lhe a tua confiança:
Confio em ti
Acredito em ti
Respeito a tua decisão
Não é fácil, mas sei que vais conseguir
Estás a fazer o correcto
Percebes bem as coisas
Como é que conseguiste?
Ensina-me a fazer isso!
Estás a fazer melhor do que antes e ainda vais melhorar
Reconhece o esforço e/ou sofrimento:
Vejo que trabalhaste muito para o conseguir
Estou a ver que te fartaste de dar o litro, continua assim
Posso imaginar o tempão que isso levou
Fico orgulhoso por ver que te esforçaste muito, é assim mesmo
Continua a empenha-te dessa forma, vais ver que as coisas vão correndo melhor
Deves ter feito uma boa planificação para correr assim bem
Os teus esforços recompensaram-te com um bom resultado, felicito-te
Agradece a ajuda e contribuição:
Obrigada por teres… (algo positivo e não de forma irónica)
Obrigada pela tua ajuda
Obrigada por compreenderes
Isso ajuda-me muito, agradeço-te
És um óptimo ajudante
Graças a ti, consegui acabar isto mais depressa
Graças à tua ajuda temos a casa mais limpa
Como me ajudaste já não temos tralhas espalhadas no chão
Ajuda-o a avaliar o resultado / leva em consideração a sua opinião:
O que é que te parece?
O que pensas sobre isto?
Gostas de ver como ficou?
Achas que te saiu melhor do que da outra vez?
O que é que mais gostas nisto?
O que pensas que podias fazer para melhorar?
Agradece o tempo que passam juntos*:
Gosto muito de passar tempo contigo
Obrigada por estares aqui comigo
Estou muito feliz por te ter aqui
Sinto-me muito bem ao teu lado
Estou mortinha por retomarmos o jogo amanhã
És uma pessoa muito interessante
És muito importante para mim, gosto muito de estar contigo
ilustração de Benjamin Chaud"

terça-feira, 6 de outubro de 2015

Transtorno Obsessivo Compulsivo – TOC


Transtorno Obsessivo Compulsivo – TOC

Publicado por Maria Célia Becattini 



Alguns sites definem o TOC como “ Técnico Oficial de Contas”, enquanto alguns profissionais teimam em classificá-lo como “manias e medos” e, nas classes mais baixas, seus sintomas podem ser confundidos com manifestação espirituais e/ou possessões demoníacas.

Diante disso tudo, é de se esperar que o distúrbio, cujo significado da sigla é “Transtorno Obsessivo Compulsivo” seja ignorado pela maioria da população e, com isso, seu tratamento passe a ser um privilégio de poucos.

Em primeiro lugar, apesar da dificuldade em detectar-se suas causas, é possível saber que, entre elas, podem estar fatores genéticos, lesões ou infecções cerebrais, consumo exagerado (ou prolongado) de tóxicos, entre outras causas.

O TOC pode ser simples, só obsessivo ou só compulsivo ou a combinação dos dois, pode mostrar-se associado á síndrome de Tourette (Tiques motores/vocais e sonoros) e esta pode associar-se a outros tantos distúrbios que não cabe enumerar neste que pretende ser um resumo do tema.

Quase sempre, o TOC vem acompanhado de hiperatividade, seja qual for seu grau. Entenda-se por obsessão, uma idéia/mania fixa e por compulsão algo que se obriga a fazer continuamente. A compulsão pode tornar-se conseqüência da obsessão e, por isso, é comum pacientes começarem a demonstrar sintomas de obsessão e, sem tratamento adequado, passarem a mostrar também sintomas de compulsão.

Existem casos simples ( pessoas que “colecionam coisas”, abrem e fecham portas várias vezes antes de saírem, apavoram-se com medo de contrair algum vírus etc.) e os casos evoluem até o extremo (pessoas que se mutilam ou cometem homicídios/suicídios motivados por medos ou “visões” que alucinam), passando por casos em que o paciente se vê feio ou distorcido, imagina-se um ser desprezível, incapaz de ser amado ou aceito.

Na maioria desses casos, é comum confundir-se os sintomas com possessões demoníacas, até porque os quadros realmente se parecem, mas nisso devo esclarecer que há uma visão distorcida até do que vem a ser possessão demoníaca.

Partindo-se do princípio de que o ser humano é dotado de energia emanando nas próprias células e que é essa energia “liga-se” a outras energias cósmicas por meio de correntes elétricas do cérebro, é inadmissível acreditar-se em possessões demoníacas. Mais viável é crer que alguma falha dentro do cérebro lesado cause a deficiência.

No caso de transtornos de tiques, estes podem ser desde os mais amenos (piscar de olhos, torcer nariz,mexer nos cabelos etc.) até os mais graves, geralmente envolvendo sons feitos com a garganta ou língua. Este sim são chamados de Tourette e tão graves podem ser que chegam a impedir que seus portadores tenham vida social, pois dificilmente o paciente conseguirá sair, divertir-se mostrando a cada um ou dois minutos uma seqüência de tiques acompanhados de sons altos e incontroláveis.

Para cada “combinação” desses distúrbios, há um tratamento. A terapia, especialmente a Multiterapia, pode tratar muitos dos casos citados, a Arteterapia/Musicoterapia e a Psicanálise podem tratar dos casos mais amenos. Os casos mais graves (envolvendo tendências suicidas/homicidas, manias multiladoras, tiques excessivos etc.) devem ser tratados pela Psiquiatria. Em alguns casos, pode-se combinar o tratamento medicamentoso ( estipulado pelo Psiquiatra) com a Terapia, mas nunca apenas com a Terapia isolada.

Deve-se lembrar de que também os grupos de apoio, isoladamente, não funcionam. Apenas servem para que o paciente veja que não está sozinho. Há muitas pessoas como ele, com os mesmos sintomas ou parecidos. Mas, se o grupo de apoio não for utilizado em conjunto com o tratamento terapêutico e/ou medicamentoso, de nada adiantará.

Fonte: Livro transtornos de comportamento e distúrbios de aprendizagem; Autor: Lou de Olivier