sábado, 14 de novembro de 2015

10 Sinais de que seu Filho pode ter Dislexia

Publicado por Maria Célia Becattini

"10 Sinais de que seu Filho pode ter Dislexia"

Muitas crianças tem dificuldade de aprendizagem, neste caso, seria ideal que todas fossem testadas para detectar se elas tem dislexia. Porém, o sistema educacional brasileiro é deficiente e há uma falta de recursos na maioria das escolas do país. Este caso, é importante que pais e professores fiquem atentos aos sinais de dislexia para que possam ajudar seus filhos e alunos.



O primeiro sinal de provável dislexia pode ser detectado quando a criança, apesar de estudar, tem grande dificuldade em assimilar o que é ensinado pelo professor. Crianças cujo desenvolvimento educacional é retardatário podem ser bastante inteligentes, porém, ter dislexia. O melhor procedimento a ser adotado é permitir que profissionais qualificados na área de saúde mental e educacional, examinem a criança para averiguar se ela é disléxica. A dislexia não é o único transtorno que inibe o aprendizado, mas é o mais comum e pode vir acrescido de TDAH ou outros transtornos.

Existem muitos sinais que identificam a dislexia. Crianças disléxicas tendem a confundir letras com grande frequência. Entretanto, esse indicativo não é totalmente confiável, pois muitas crianças, inclusive não-disléxicas, frequentemente confundem as letras do alfabeto e as escrevem de lado ao contrário, principalmente no inicio da alfabetização. No maternal, ou na alfabetização crianças disléxicas demonstram dificuldade ao tentar rimar palavras e reconhecer letras e fonemas. Na primeira série, elas não conseguem ler palavras curtas e simples, têm dificuldade em identificar fonemas e reclamam que ler é muito difícil. Do primeiro ao quinto ano, crianças que tem dislexia têm dificuldade em soletrar, ler em voz alta e memorizar palavras; elas também frequentemente confundem palavras. Esses são apenas alguns dos muitos sinais que identificam que uma criança tem dislexia. A dislexia é tão comum em meninos quanto em meninas.
Sinais na primeira infância:

Após vários estudos realizados, tanto no Brasil como no exterior, constataram-se possíveis sinais de dislexia na primeira infância, dentre os quais podemos citar:
1. atraso perceptível no desenvolvimento motor desde a fase do engatinhar, sentar e andar;
2. atraso relevante na aquisição da fala, desde o balbucio à pronúncia de palavras;
3. dificuldade para essa criança entender o que está ouvindo;
4. distúrbios do sono;
5. enurese noturna;
6. suscetibilidade às alergias e às infecções;
7. a criança tem tendência à hiper ou a hipo-atividade motora;
8. fica inquieta e chora muito ou fica agitada com muita frequência;
9. apresenta dificuldades para aprender a andar de triciclo;
10. tem dificuldades de adaptação nos primeiros anos escolares;


Segundo pesquisas científicas neurobiológicas recentes concluíram que o sintoma mais conclusivo acerca do risco de dislexia em uma criança, pequena ou mais velha, é o atraso na aquisição da fala e sua dificuldade na percepção fonética. Quando este sintoma está associado a outros casos familiares de dificuldades de aprendizado e a dislexia é, comprovadamente, genética, afirmam especialistas que essa criança pode vir a ser avaliada já a partir de cinco anos e meio, idade ideal para o início de um programa interventivo. Esses programas com profissionais adequados podem trazer as respostas mais favoráveis para superar ou minimizar essa dificuldade.

Quando a criança apresenta dificuldade de discriminação fonológica este fator leva a criança a pronunciar as palavras de maneira errada. Essa falta de consciência fonética, decorrente da percepção imprecisa dos sons básicos que compõem as palavras, acontece, já, a partir do som da letra e da sílaba. Essas crianças podem expressar um alto nível de inteligência, “entendendo tudo o que ouvem”, como costumam observar suas mães, porque têm uma excelente memória auditiva. Portanto, sua dificuldade fonológica não se refere à identificação do significado de discriminação sonora da palavra inteira, mas da percepção das partes sonoras diferenciais de que a palavra é composta. Esta é a razão porque a pessoa disléxica apresenta dificuldades significativas em leitura, que leva a tornar-se, até, extremamente difícil sua soletração de sílabas e palavras.



É necessário que estes sintomas sejam observados e averiguados para um possível diagnóstico, pois é melhor que este seja feito o quanto antes, para que haja o tratamento adequado no caso de dislexia e estes sintomas não influenciem negativamente na aprendizagem da criança.

Compartilhe esse artigo para que seus amigos reconheçam o problema. Um diagnóstico logo cedo pode fazer toda a diferença no aprendizado e na vida da criança.

Fonte: Ganhe Sempre Mais

sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Dislexia: buscando uma nova forma de aprender

Publicado por Maria CéliaBecattini

O primeiro diagnóstico, levantado como suspeita pela proprietária da escola, foi déficit de atenção e hiperatividade, e a recomendação foi procurar ajuda médica
Redação Folha Vitória


A dislexia é um transtorno de aprendizagem definido pela dificuldade em ler e escrever
Foto: ​Divulgação

“O que o meu filho tem, por que ele não aprende?” Essa era a dúvida que não saía da cabeça da comerciante Elaine Cardoso Guedes Caetano. Foi quando seu filho Leandro estava com cinco anos que ela começou a perceber que apesar de ter sido um bebê bastante esperto, ter começado a andar aos nove meses e já andar de bicicleta antes dos dois anos, não conseguia acompanhar os amiguinhos na escola. Ele não conseguia entender os números e as cores, no outro dia já não lembrava o que tinha visto no dia anterior na aula e apresentava algumas dificuldades.

O primeiro diagnóstico, levantado como suspeita pela proprietária da escola, foi déficit de atenção e hiperatividade, e a recomendação foi procurar ajuda médica. A partir daí, foram várias consultas e inúmeros exames, todos com resultados dentro do normal, até que a neurologista e a psicopedagoga chegaram a um veredicto: Leandro tinha dislexia. Após o choque inicial e a busca por informações, começou a batalha da família.

“Na época eu não conhecia nada sobre dislexia. No início do tratamento ele tinha a autoestima muito baixa, se recusava a responder porque estava abalado, ele via as crianças fazerem e ele não conseguia. Depois desse período a neurologista e a psicopedagoga conseguiram se aproximar mais dele e então foi melhorando. Ele começou a tomar remédio e elas trabalhavam muito a autoestima, faziam joguinhos e ele se saía muito bem”, conta a mãe.

Hoje Leandro está com 15 anos e continua firme na luta com a ajuda de um médico neurologista. As doses de remédio já foram reduzidas e o seu desempenho com jogos e vídeos é excelente.

Entendendo a dislexia

A dislexia é um transtorno de aprendizagem definido pela dificuldade em ler e escrever. O que ocorre são falhas nas conexões cerebrais que trazem dificuldade para associar o símbolo gráfico e as letras ao som que elas representam. Assim, o diléxico não consegue organizá-los mentalmente numa sequência coerente. No Brasil, cerca de 5% da população sofre com o problema, de acordo com o Instituto ABCD, organização social voltada para jovens com dislexia e outras dificuldades de aprendizagem. No mundo, 17% das pessoas possuem o transtorno.

A doença é uma herança genética e não tem relações com distúrbios psicológicos, por isso não tem cura. O tratamento é multidisciplinar e envolve fonoaudiólogos, psicólogos, psicopedagogos e neurologistas e, se feito com regularidade, possibilita uma vida normal aos portadores do transtorno, já que o desenvolvimento intelectual e a capacidade de comunicação não são afetados, de acordo com especialistas.

O educador tem papel fundamental no diagnóstico de uma criança disléxica. É ele que vai perceber, durante a alfabetização, se a evolução do aluno está abaixo da esperada. Se for esse o caso, a criança deve ser submetida à análise de professores, psicólogos e fonoaudiólogos para saber se ela tem dificuldades pontuais ou se é disléxica.

Os sintomas não são difíceis de ser reconhecidos. Geralmente, crianças com dislexia costumam demorar mais para ler do que as outras, já que elas têm dificuldade em identificar palavras e associá-las a seus sentidos. Letras com sons parecidos, como P e T, costumam ser trocadas na escrita, o que acarreta erros ortográficos. Além disso, crianças disléxicas também têm dificuldade de memorizar regras de ortografia e até de juntar duas letras para formar uma sílaba simples.

Esses sintomas são sérios e reconhecidos pela legislação brasileira. Atualmente, o aluno disléxico e que apresenta transtornos relacionados à aprendizagem conta com várias leis em vigor para auxiliar seu aprendizado. O estudante tem direito a ter um intérprete para ajudá-lo na prova, a ditar a redação e pode usar calculadora para cálculos, por exemplo.

O mais importante é saber que o diagnóstico da dislexia não é uma condenação de não-aprendizagem. Com esforço, acompanhamento profissional e a parceria da escola com a família, o portador de dislexia tem grandes chances de até chegar a ser um Presidente da República, como o ex-presidente norte-americano Franklin Roosevelt. Sim, ele era disléxico!

quarta-feira, 4 de novembro de 2015

A ideia de felicidade ocidental, baseada no individualismo, falhou


Publicado por Maria Célia Becattini

por: SONIA RACY



Roman Krznaric (Foto: Kate Raworth)

Fundador da The School of Life vem ao País dar palestras sobre compaixão e trabalho. Para o filósofo australiano, colocar-se no lugar do outro é a verdadeira revolução.

Há 20 anos, Roman Krznaric se inscreveu para um curso de culinária na Bahia; mas, como não conseguiu uma bolsa de estudos, declinou a viagem. Hoje, o filósofo australiano, um dos fundadores da The School of Life, na Inglaterra, finalmente conhecerá o Brasil. Abriu uma exceção para viajar de avião – ele se preocupa com as emissões de carbono – e virá ao País para uma palestra sobre trabalho, dia 22, no Teatro Augusta.

Escritor do best seller Como Encontrar o Trabalho da Sua Vida, o filósofo continua interessado em culinária, mas se dedica a incentivar o que chama de “questionamentos sobre a vida”. E a vida laboral, segundo o escritor, é uma das questões que causam mais insatisfação e inquietação no mundo contemporâneo. “Hoje, pessoas de todas as classes sociais começam a enxergar o trabalho como algo para além da sobrevivência. É uma ocupação que pode fazer você se sentir preenchido”, conta. A saída para a insatisfação, explica, tem algumas alternativas: aplicar seus valores pessoais no trabalho; procurar um emprego que faça diferença no mundo; e usar seus talentos e habilidades; entre outras. “Uma das maiores razões de satisfação no trabalho não é dinheiro, mas autonomia”, diz.

Além de aulas e conferências pelo mundo, o australiano toca, paralelamente, um projeto definido por ele como “a grande ambição de sua vida”: a criação de um Museu da Empatia. “Trata-se de um lugar onde você poderá entrar e conversar com pessoas que não conhece. Assim como emprestamos livros de uma biblioteca, será possível emprestar pessoas para uma conversa”, explica. O projeto não é de todo utópico. Segundo o filósofo, depois de um vídeo explicando seu conceito de empatia, com 500 mil visualizações, sua caixa de e-mail recebe, pelo menos, uma mensagem por dia de pessoas do mundo inteiro se propondo a ajudar na criação do museu.

É por meio dessa troca e da disseminação desse conceito de empatia que o filósofo acredita ser possível fazer uma revolução: “As pessoas acham que a paz e as revoluções são construções de acordos políticos. Mas acredito que é possível que isso seja feito nas raízes das relações humanas. Desmontando ignorâncias e preconceitos”, diz.

A seguir, os melhores momentos da entrevista.

No seu livro, o senhor fala que 60% das pessoas estão insatisfeitas com a vida profissional. Por que esse desconforto crescente?
Parte dessa insatisfação vem do fato de que, nos últimos 20 ou 30 anos, houve um grande crescimento de expectativa com relação ao trabalho. Antes disso, poucos se questionavam sobre seus empregos. Hoje, pessoas de todas as classes sociais começam a ver o trabalho como algo para além da sobrevivência. Uma ocupação pode fazer você se sentir preenchido. De taxistas a investidores de banco, médicos, faxineiras… todos procuram por mais significado no trabalho. Nasceu o conceito de que trabalho pode ser um lugar para se aplicar os talentos, as paixões, os valores.

Como essa mudança ocorreu?
À medida que as necessidades básicas são alcançadas, como casa, comida, educação, as pessoas buscam mais propósitos na vida. E, claro, hoje em dia há mais profissões. Na Europa do século passado, se você quisesse trabalhar com algo que envolvesse suas visões políticas e sociais, existiam poucas possibilidades. Atualmente, há um enorme mercado de trabalho para isso, como ONGs, órgãos de meio ambiente, sociais, em que as pessoas podem sentir que estão fazendo a diferença diariamente. Isso é algo novo. Ter um trabalho onde me sinto valioso e cheio de significados.

O senhor não acha que essa tendência contemporânea de que o emprego tem de ter alguma função social pode criar uma certa culpa coletiva?A maioria das pessoas não trabalha com algo que faz diferença para o mundo.

Sim. Nossos valores são grandes motivadores para o trabalho e para a satisfação laboral. E sim, existe uma culpa de quem pensa “se eu não estou trabalhando com meninos de rua, então sou uma pessoa ruim”. Entretanto, há outras maneiras de encontrar satisfação no trabalho. Uma delas é essa: aplicar seus valores pessoais na prática. Outra é usar seus talentos – sendo um artista ou um jogador de futebol, você não está necessariamente mudando o mundo, mas sua satisfação virá do uso de suas habilidades e paixões. Para mim, o maior problema não é a culpa, mas o arrependimento. É a sensação de chegar ao fim da vida e saber que não fez o que gostaria realmente de ter feito.

O que acha da corrente que defende que as pessoas trabalhem em casa, sozinhas?
Isso é um tópico contemporâneo muito importante. Nos últimos meses, especialmente nos EUA, as empresas não estão deixando seus funcionários trabalharem de casa. O exemplo mais clássico é a nova chefe executiva do Yahoo, Marissa Mayer, que há alguns meses não permite que seus funcionários trabalhem de casa. Isso é trágico. Uma das revoluções modernas laborais, no mundo ocidental, é a ideia de trabalhar de casa.

Por quê?
Uma das razões apontadas pela maioria das pessoas que são felizes no trabalho não diz respeito à remuneração, mas à autonomia. É o senso de liberdade, o poder de decisão sobre o próprio trabalho, que cria satisfação. Mesmo que não seja o emprego dos sonhos. Trabalhar de casa é uma dessas possibilidades. Controlar o próprio horário, a disciplina.

Recentemente, um estagiário se suicidou na Inglaterra, depois de trabalhar 72 horas seguidas. O que acha da cultura que incentiva trabalhar demais?

Muitas empresas fazem o culto do “overwork”, em que trabalhar muito, além da conta, é valorizado. Especialmente em bancos e consultorias. Na Inglaterra, um milhão de pessoas afirmam ser viciadas no trabalho. Ou seja, trabalham mais do que precisariam. A ideia de “work adiction” é um grande problema. O Japão é um caso clássico. Muitas pessoas cometem suicídio ou sofrem de ataque do coração, depois de trabalhar demais. Existe, inclusive, uma palavra no dicionário japonês para “morrer de tanto trabalhar”. Espero que isso seja uma mensagem para indivíduos e para essas empresas.

No livro, o senhor afirma que encontrar o “trabalho da vida” é como encontrar o amor perfeito.
Isso aprendi com uma mulher que, aos 30, pediu demissão e testou 30 profissões diferentes durante um ano. E ela me disse, no fim desse processo, que encontrar o emprego perfeito é como encontrar um amor perfeito. Você pode fazer uma lista com qualidades que gostaria num parceiro e, no fim, se apaixonar por um que não tenha nenhuma delas. Trabalho é isso. Empregos inesperados podem ser surpreendentemente bons. Por isso, experimentar é importante. Para se dar chance de descobrir novas paixões e talentos. O contrário também acontece.

Como?
Eu, por exemplo, trabalhei como jardineiro em um grande jardim público. O salário era ruim, mas achei que seria fantástico, porque estaria perto da natureza, fazendo algo para o público. No fim, trabalhava o dia inteiro, com um esforço físico enorme e as pessoas nem me notavam. Era invisível. Todos nós precisamos de respeito e sentir que nosso trabalho é válido.

O senhor acredita que o aspecto financeiro não provoca satisfação no emprego. No entanto, existe uma questão social, especialmente nos países em desenvolvimento, como o Brasil.
Sim, o dinheiro importa. Se você tem de ter dois empregos para alimentar a família, claro que não há tempo para ficar experimentando ser um professor de ioga, por exemplo. Nesses casos, a pergunta é: como posso fazer com que meu trabalho seja mais prazeroso?

Crê que as sociedades contemporâneas continuam incentivando o sucesso por meio das conquistas individuais?
Perseguir o interesse próprio foi a grande propaganda do último século. Entretanto, ser humano não é apenas seguir os desejos individuais. A ideia de felicidade ocidental falhou. A introspecção, o interesse próprio, perseguir valores que não envolvam o coletivo… Temos a tendência a sentir compaixão uns pelos outros. Somos criaturas empáticas. Há estudos que mostram que compaixão dá prazer. Somos também coletivos. Formamos comunidades de todos os tipos, o tempo inteiro. As pessoas estão, cada vez mais, querendo fazer parte de algo maior do que elas mesmas.

O senhor tem a ideia de criar um Museu da Empatia. O que é esse projeto?
É a maior ambição da minha vida. Estamos em desenvolvimento ainda. Trata-se de um lugar onde você pode entrar e conversar com pessoas que não conhece. Fazer um “laboratório humano”. Assim como você empresta livros de uma biblioteca, será possível “emprestar pessoas” para uma conversa. Nesse processo também quero criar uma plataforma online, em que será possível “baixar” exposições.

Como?
Você poderá estar em São Paulo e fazer parte do Museu da Empatia, dividindo histórias de como, por exemplo, você faz uma “conversa-refeição” – que é um conceito criado por nós na The School of Life. “Conversa-refeição” nada mais é do que estranhos que se sentam a uma mesa e, no lugar de um menu gastronômico, recebem um cardápio de ideais. Com questões sobre a vida, do tipo: “De que maneira o amor mudou a sua história?”, “Como ser mais corajoso?” ou “Como ter mais satisfação no trabalho”. Meu objetivo é que as pessoas possam baixar esses menus, com instruções para fazer isso em suas comunidades.

O senhor diz que a “empatia”, no sentido de compaixão, é algo capaz de criar uma revolução. Poderia explicar?

A ideia de empatia é, para mim, o ato de “calçar os sapatos de outra pessoa”. Olhar o mundo pela visão do outro. E, normalmente, quando pensamos nessas coisas, sempre consideramos um relacionamento somente entre duas pessoas. Entretanto, se olharmos a história, em todo o mundo, vemos que movimentos de empatia coletiva tiveram momentos de grande êxito. Em outros, sofreram um colapso e desapareceram, como no Holocausto e no genocídio de Ruanda. As pessoas podem agir juntas. Fazendo esse exercício de se colocar no lugar do outro, é possível, sim, mudar o mundo.

Tem um exemplo de um desses momentos?
Na Europa e nos EUA, no século 18, quando houve um grande movimento contra a escravidão. Foi disseminada uma grande reflexão sobre o que era ser escravo. De tempos em tempos, surgem pessoas que se organizam para desafiar atitudes de injustiça. E muitas dessas pessoas são motivadas pela empatia. Hoje, no Oriente Médio, há muitas iniciativas para criar paz entre palestinos e israelenses. As pessoas acham que a paz e as revoluções são construções de acordos políticos. Mas acredito que é possível que isso seja feito nas raízes das relações humanas. Desmontando ignorâncias e preconceitos. Há um enorme potencial no diálogo para comandar mudanças profundas nas sociedades.

Como nutrir esse sentimento em épocas de extremismos?
Nutrir empatia em um local cheio de preconceitos é difícil. A saída para isso é alimentar a curiosidade pelo outro. Nós não conversamos com quem não conhecemos. Esse seria um belo exercício de sensibilização. Ficamos muito tempo com pessoas que são como nós. /MARILIA NEUSTEIN

terça-feira, 3 de novembro de 2015

Autoretrato

Publicado por Maria Célia Becattini

O caminho do autoconhecimento não é uma complexa jornada de provocações, muito menos um privilégio de iniciados. A resposta para a questão "Quem sou eu?" mora na simplicidade, nos sonhos da infância, no ato de respirar fundo e na coragem de dizer que somos falíveis. É nessa pausa que reconhecemos nosso contorno e valores e sabemos o que fazer com o amor e a agressividade, dando a eles destinos adequados na vida

Texto: Marcia Kedouk ; Fotos: Nick Dolding/Getty Images



Em dezembro de 1927, o romancista francês Romain Rolland, ganhador do Prêmio Nobel de Literatura em 1915, escreveu ao amigo austríaco Sigmund Freud sobre o que chamou de sentimento oceânico, uma espécie de imensidão interior que parece permear a existência humana, como se cada um de nós fosse maior que si mesmo. Naquele início de século 20, Freud, discordando do romancista francês – para quem tal percepção provaria um elo com o eterno, a espiritualidade – respondeu que essa sensação, na verdade, não tinha caráter transcendental, ou seja, possuía causa bem humana. O fio da meada começaria nos primórdios da infância, quando a criança passa a perceber que ela e a mãe não são um ser único. Segundo o pai da psicanálise, surgiria ali uma vontade permanente de saber, afinal, quem somos. “Sou aquilo que acontece no período pós-dependência absoluta da mãe, quando tenho que lidar sozinho com os primeiros desafios”, responde o psicanalista José Henrique Pereira e Silva, coordenador do Espaço Winicott de Psicanálise, em São Paulo e Manaus. “Sou, portanto, alguém que experimentou algumas perdas, mas que pôde seguir em frente. Sou esse amadurecer para a realidade e para as relações com os outros; alguém que, com sorte, soube o que fazer com o amor e a agressividade, dando a eles destinos adequados na vida.”


Você e os outros
Nesse caminhar com as próprias pernas, cada um vai acrescentando à jornada não só os aprendizados como também um pedacinho das pessoas e dos lugares que se aconchegaram no íntimo ao longo dessa andança. Os pais e a casa, os amigos e o bairro, os professores e a escola, os amores e as viagens, os colegas, o trabalho. E, então, o “quem sou” se transforma em uma eterna colagem de referências. “Seus pais, por exemplo, escolheram seu nome, depois transmitiram valores e regras para a convivência em sociedade, mostraram perspectivas de futuro”, avalia Matheus Henrique Kunst, psicanalista e psicólogo clínico em Santo André e Mauá, em São Paulo. Tudo isso formou camadas que, pouco a pouco, moldaram a sua personalidade, o seu ego.

Nesse contexto, a profissão que você escolheu pode ter muito das expectativas de seus pais, e não suas. O seu ideal de felicidade também, porque ele espelha valores recebidos. Um exercício bacana para desvendar essa influência é perguntar-se qual é a sua visão de sucesso e comparar com o que seus pais pensam sobre o assunto. Eles acreditam que ser bem-sucedido é ter muito dinheiro, enquanto você já fi caria contente com o sufi ciente para viver? Eles querem vê-lo presidente de empresa, e sua vontade maior é conseguir tempo para conviver com quem você ama? Quando se começa a reconhecer quais são seus próprios desejos e quais são os dos outros, surge a possibilidade de separar quem você é daquilo que as pessoas acham que você deveria ser.

Essa autodescoberta, tão valiosa, geralmente se dá em um momento difícil, como a perda de um emprego ou de uma paixão. Quando a vida recebe um tranco, aqueles personagens que criamos – o funcionário dedicado, o amante perfeito – e que sustentavam o nosso dia a dia desmancham. E fi ca evidente que você não é nem o empregado nem o par romântico. Você é...

Uma das formas de começar a responder a esse dilema e entender a construção da sua história pessoal é voltar à infância e olhar com sinceridade e maturidade aquele ser que a princípio só sabia se ver com os olhos dos pais e, depois, pelo julgo dos parentes, amigos e professores. Pergunte à criança que você foi o que realmente importa para ela, do que gosta, o que a faz feliz. Reflita também sobre as fantasias que ela criou e que não fazem mais sentido. Todas essas informações serão úteis na sua montagem interior atualizada. A conversa é com você mesmo, mas também pode funcionar pedir ajuda a um amigo ou recorrer a um terapeuta. Falar sobre anseios e sofrimentos é escutar a si mesmo. Para os psicanalistas, avançamos nos nossos questionamentos até onde o consciente nos permite. Com o auxílio de um par que sirva de ouvinte e condutor, podemos ver apontamentos que ainda não são claros, porque estão no inconsciente.

O trabalho, no entanto, não termina nessa autoanálise. O educador físico Marco Schultz, coprodutor do filme Eu Maior, sobre autoconhecimento e a busca da felicidade, acredita que o caminho se aprofunda quando, depois de tudo o que descobrimos sobre nós mesmos, nos calamos. Porque no silêncio mora a nitidez que nos falta na turbulência dos dias.


Você e o silêncio
Um jovem procura o mestre em busca de respostas para seus problemas. Na presença dele, começa a falar, falar e falar. Comenta sobre a escola, a família e os amigos, expõe suas inquietações. O mestre, percebendo o estado mental do discípulo, começa a colocar chá na xícara do rapaz e vai deixando a bebida transbordar lentamente até derramar sobre a mesa. O jovem continua falando e, tão absorto que está em seus vários dilemas, só percebe o que está se passando quando o chá quente derrama sobre suas pernas. Dá um grito, então, e pergunta se o mestre não percebeu o que fazia. “Você é que não está percebendo nada”, pondera o mestre. “Chegou aqui como esta xícara cheia de chá: não há espaço para nada em sua mente. Nenhuma resposta vai caber para você enquanto sua mente não se esvaziar.” Quem conta essa parábola é Sandro Bosco, professor de meditação e ioga, palestrante e autor do livro Meditação para Quem Acha que Não Consegue Meditar (ed. Matrix). Ele acrescenta que o autoaprendizado é tão simples que parece complicado. “A gente precisa de respostas complexas para justificar as nossas dificuldades. Somos levados por pensamentos cartesianos, em que dois mais dois resultam em quatro. Mas entender racionalmente quem somos é só uma parte do processo, só um nível de percepção”, diz. O estágio mais profundo dessa descoberta não está nas palavras. “Quando você pergunta a um professor ou mestre de artes marciais ou ioga como desvendar o ‘quem sou eu’, ele diz: ‘Se há dúvida, fica em silêncio e observa a tua respiração’. A resposta não é verbal, é um sentimento interno. Para quem está confuso, com a mente cheia de problemas, essa resposta nunca vai parecer sufi ciente”, explica Bosco. Na verdade, isso significa que o autoconhecimento não é privilégio daqueles que seguem alguma filosofia espiritualista. Prestar atenção ao ato de respirar não requer regras. Dá para fazer isso na mesa do escritório, passeando no parque, antes de dormir. O importante é desenvolver o hábito de, todo dia, perceber o ar entrando, circulando e saindo. É assim que se retoma a intimidade com quem você é. E essa intimidade é que ajuda a distinguir seus contornos.

Claro, algumas técnicas de meditação e posturas aprimoram a prática. Servem de facilitadores, ainda mais em um mundo hiperconectado, em que a quantidade e a velocidade das informações que chegam mantêm o cérebro atuando em alta frequência. Para minimizar a ansiedade e o estresse – duas emoções que sobrepõem véus entre você e seu eu –, existem inclusive pousadas e hotéis dedicados ao silêncio. Alguns têm regras rígidas, como em um retiro, e definem que não se pode conversar por 15 dias. Outros são apenas lugares projetados para isolar barulho e manter o hóspede na calmaria da mente. De qualquer forma, a falta de mestres ou de templos não precisa virar mais um porém nesse caminho. Às vezes, tudo de que você precisa é pisar descalço na grama.

Você e o infinito
Existe algo de místico na natureza, um saber universal e democrático que nos liga a quem somos sem que a gente tenha a necessidade de explicações. “Do mesmo modo como a Terra gira em torno de si mesma e em volta do Sol, gerando as estações, não precisamos pensar para respirar. A natureza do ego é querer e querer mais: quando você chega a uma resposta, quer outra”, diz Bosco. O autoconhecimento nunca acaba. É como uma bússola que está em constante ajuste. E que depende da nossa sensibilidade e autenticidade; inclusive para reconhecer que, em certos momentos, precisamos abandonar a ideia de corresponder a expectativas para ser quem realmente somos. Chega uma hora em que nem precisamos fazer esforço para observar esse movimento acontecer.

Lembre-se das vezes em que você contemplou o mar por longos segundos, ouviu o cantar dos pássaros, pisou a areia molhada. A sensação é de que esse contato leva a um estado mais ancestral, e permite silenciar barulhos, ter mais clareza da sua essência. É que a natureza guarda uma sabedoria milenar que nos conecta a ela. Como somos parte desse imenso todo, temos em nós um infinito. Alguns dão a isso o nome de Deus, espiritualidade. Outros reconhecem ali coerências científicas. Não importa qual caminho você escolha. Se mais Freud, se mais Rolland. “O importante é perceber que o autoconhecimento é uma trajetória em direção àquilo que existe antes e além de você mesmo”, diz Schultz. “Não há um outro lado nessa jornada. Existe um caminhar em que o menos importante é o ponto de chegada”, acrescenta Silva.

Quando a gente começa a trilhar o caminho do redescobrimento, é comum alimentar a expectativa de que vai desbravar todo o território, do núcleo até as bordas que separam o eu do resto. Mas não. Na realidade, acontece uma expansão de fronteiras. Imagine que você é uma ilha que, pelos seus cálculos, tem 10 metros quadrados. Depois do início da busca, suas descobertas o levam até os seus extremos. E então fica evidente que seu tamanho é maior: uns 50 metros quadrados, talvez. Ao chegar até esses novos limites, percebe-se que são mil, 10 milhões, 100 bilhões de metros quadrados... Na imensidão de quem você é, sempre haverá mais para conhecer.