quarta-feira, 15 de abril de 2015

Dislexia



Publicado por Maria Célia Becattini

PERCEPÇÃO SUPERFICIAL: HIPERATIVIDADE OCULTA X PASSIVIDADE

Publicado por Maria Célia Becattini

Percepção superficial:
Hiperatividade oculta x passividade

Leonardo Maia – Desenvolvedor da Biblioteca da Antroposofia



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“Uma das consequências do excesso de informações e obrigações aliada a percepção de curto espaço de tempo é a necessidade de navegar superficialmente através dessas informações e a de sermos seletivos quanto a quais devo e quero absorver, o que nem sempre acontece e quem acaba muitas vezes fazendo essa escolha das informações passa a ser as mídias sociais: principalmente jornais, revistas, tv e internet e o governo. Isto tem um efeito muito interessante, que é a padronização do conhecimento e do pensamento, criando linhas de pensamentos padronizados, que na verdade não são escolhas nossas, mas acabam entrando por um efeito de passividade. Esta passividade pode ser desenvolvida por um excesso de esforço em achar soluções para nossas questões e obrigações do dia a dia, isso pode desenvolver um estresse e preocupação (em vários níveis de intensidade), que desgasta o indivíduo mentalmente. E torna muito comum a necessidade de, no final de semana, sair com amigos, sem compromissos, apenas para me divertir e relaxar, não pensar em “nada”, apenas para “desestressar”. Muitas vezes fazendo o uso de drogas lícitas (álcool) ou ilícitas para ajudar a parar de pensar nos problemas. Ou mesmo buscar prazeres sensoriais como fazer sexo ou comer “gostosuras” e até projetar as satisfações na aquisição e consumismo, como comprar um carro novo ou fazer compras, consumir passa a aliviar muito de nosso estresse…”



Num mundo tão veloz, com muitas informações, não é de se admirar que não consigamos nos aprofundar muito em certos temas, assuntos ou mesmo percepções.

Se não estivermos “atentos” e rápidos, ficamos para trás, não nos atualizamos e podemos perder a interação com o complexo mundo da chamada “Era da informação”.

Ora, isso não nenhuma novidade, mas existem outros fatores que devem ser analisados.

A vida moderna exige muito, pois trabalhamos durante um período longo, jornadas de 6 até 12 horas diárias. Temos nossos compromissos particulares, com nosso lar, com nossos cônjuges, nossos filhos, nossas obrigações como cidadãos (prestar contas, pagar impostos, ter atenção aos padrões regulamentados como lei e etc…).

Então temos que dividir nossa atenção em muitos aspectos, mas muitos mesmo. Somente isso já seria o suficiente para causar uma overdose de atividades mentais.

Temos muitas coisas pra pensar e lembrar, muitas informações para absorver e processar. Isto acaba gerando um estresse mental e em geral, muitas, mas muitas preocupações (pré ocupação) que ajudam a ocupar nossa mente com aspectos que ainda não aconteceram, aumentando ainda mais a nossa percepção de tempo reduzido. Quem nunca ouviu a frase do capitalismo que “tempo é dinheiro”? Corra, pois não podemos perder tempo…

Esse constante esforço para cumprir nossas obrigações, faz com que nossa vitalidade diminua e ficamos cada vez mais cansados e fragilizados, podendo ocasionar até doenças… e principalmente um enfraquecimento da vontade e o desenvolvimento da passividade.

Somos exigidos demais mentalmente dentro de exigências externas, como trabalho, soluções de problemas (financeiros, familiares, relacionamentos sociais e etc…) e ficamos sem disposição e “vontade” para uma busca autêntica individual, buscando um conforto em prazeres sensoriais.

Uma das consequências deste excesso de informações e obrigações aliada a percepção de curto espaço de tempo é a necessidade de navegar superficialmente através dessas informações e a de sermos seletivos quanto a quais devo e quero absorver, o que nem sempre acontece e quem acaba muitas vezes fazendo essa escolha das informações passa a ser as mídias sociais: principalmente jornais, revistas, tv e internet e o governo.

Isto tem um efeito muito interessante, que é a padronização do conhecimento e do pensamento, criando linhas de pensamentos padronizados, que na verdade não são escolhas nossas, mas acabam entrando por um efeito de passividade.

Esta passividade pode ser desenvolvida por um excesso de esforço em achar soluções para nossas questões e obrigações do dia a dia, isso pode desenvolver um estresse e preocupação (em vários níveis de intensidade), que desgasta o indivíduo mentalmente. E torna muito comum a necessidade de no final de semana, sair com amigos, sem compromissos, apenas para me divertir e relaxar, não pensar em “nada”, apenas para “desestressar”. Muitas vezes fazendo o uso de drogas lícitas (álcool) ou ilícitas para ajudar a parar de pensar nos problemas. Ou mesmo buscar prazeres sensoriais como fazer sexo ou comer “gostosuras” e até projetar as satisfações na aquisição e consumismo, como comprar um carro novo ou fazer compras, consumir passa a aliviar muito de nosso estresse…

Outro aspecto interessante é a adaptação da mente com a velocidade das informações, que diminui nossa capacidade de concentração devido a mudança contínua de foco ou do padrão da informação apresentada. Essa adaptação pode gerar uma sensação de tédio caso não haja nenhuma mudança na percepção ou nova informação. Isso é muito reforçado pelas imagens de TV ou de computadores,tablets e celulares, que modificam o padrão da informação absorvida pelo cérebro numa velocidade incrivelmente grande. Perceber o movimento de um objeto real é muito diferente do que absorver milhares de padrões coloridos piscando a grande velocidade para formar imagens, isso acontece mesmo em uma tela aparentemente estática.

Nosso cérebro acaba se adaptando a este burbulhar de informações e necessita de uma pausa, para voltar ao normal. Atividades como meditação, ouvir música clássica, caminhar na natureza e praticar esportes são excelentes para aquietar nossa mente.

Agora imagine que uma criança, que é puro movimento e descoberta, e ainda não possui uma consciência de comportamento social, possa realmente desenvolver uma hiperatividade no comportamento, dificuldade de concentração e outras questões, pois podem literalmente pular de uma percepção sensorial para outra numa velocidade muito grande.

Caminhar através das superfícies pode acarretar em muitas consequências, como dificuldade de compreender os próprios pensamentos e escolhas, generalização do pensamento, desenvolvimento de relações superficiais, medo da solidão e dependência, dificuldade de perceber o que é sutil e buscar satisfação em percepções sensoriais brutas, não perceber mais onde é o limite do “eu” e do “outro”…

Entrar em estados de concentração, contemplação, apreciação, veneração e satisfação passa a ser um enorme desafio!!!

Pergunto: Isso é uma consequência natural do caminho de desenvolvimento humano ou projetado?

sexta-feira, 10 de abril de 2015

Entrevista: Ana Teberosky: Processo evolutivo da criança na contemporaneidade

Publicado por Maria Célia Becattini

Pesquisadora argentina fala sobre o processo evolutivo da criança na contemporaneidade e revisita seu clássico com Emilia Ferreiro, Psicogênese da Língua Escrita


Por Isabel Frade e Vicente Cardoso Júnior
Há três décadas, as crianças chegavam à alfabetização conhecendo muito menos as letras e o universo da escrita que nos dias atuais. A escola, por sua vez, não levava em conta esse conhecimento prévio. “Se as letras não eram ensinadas, se supunha que as crianças não sabiam.” Essa é uma das reflexões feitas pela educadora argentina Ana Teberosky ao revisitar Psicogênese da Língua Escrita, obra que publicou em parceria com Emilia Ferreiro, em 1979.

Enquanto desenvolve projetos com turmas de Educação Infantil e Ensino Fundamental na cidade de Barcelona, Ana Teberosky busca acompanhar como as transformações culturais, tecnológicas e educacionais atualizam o processo cognitivo de aprendizagem das crianças. “Muitas vezes assisto aos programas que elas assistem”, revela, ao defender que os professores precisam “se apropriar da contemporaneidade da criança”. Após realizar a palestra “Leitura e Escrita na Educação Infantil: a experiência de Barcelona”1, na UFMG, em setembro, a pesquisadora concedeu esta entrevista ao Letra A.

Psicogênese da Língua Escrita ainda é uma obra de referência no Brasil para os estudos sobre alfabetização. Gostaríamos de saber que leitura você faz dessa obra atualmente, e que desdobramentos enxerga em relação a ela.

Psicogênese da Língua Escrita foi escrito no final de 1979. Daquela época para cá, a criança mudou muito, a cultura mudou muito. Não havia espaço digital, nem internet, nem celular, e tudo isso tem muita influência na representação e na convivência que a criança tem com o mundo da escrita. Além disso, a Educação Infantil não era obrigatória; agora já está mais institucionalizada. São muitos fatores de ordem social e cultural que mudaram.

Nesse sentido, quando começamos, sob a direção de Emilia [Ferreiro], a entrevistar crianças sobre seu conhecimento da letra, a criança de 5 ou 6 anos não sabia das letras, não tinha consciência da importância da alfabetização. Do ponto de vista do processo psicológico, a escola nunca pensava que esse era um âmbito de desenvolvimento, de aquisição, mas, sim, que era do âmbito do ensino e ponto. Assim, claro, perguntar à criança sobre seu conhecimento da escrita era algo muito excepcional. Perguntar sobre o conhecimento das letras também, porque, se elas não eram ensinadas, se supunha que as crianças não sabiam. Elas até sabiam alguma coisa, mas não sabiam muito. Hoje em dia, uma criança de 5 anos sabe tudo sobre isso, o nível de conhecimento e de informação aumentou muito.

Portanto, a criança é diferente. O contexto cultural é diferente. As condições técnicas, tecnológicas, são diferentes. As condições educativas também são diferentes. Quer dizer, então, que aquela obra não tem atualidade? Acho que tem atualidade, sim; mas muito da descrição teria que ser adaptada a essas novas circunstâncias. Por exemplo, o nível pré-silábico pode ser encontrado agora numa criança mais nova do que encontramos naquela época. A passagem do pré-silábico ao silábico, ou do silábico ao alfabético, é rapidíssima, hoje em dia você quase não chega a ver, é impressionante a rapidez do processo.

Então, do ponto de vista da descrição do processo, dos níveis de aquisição da escrita espontânea da criança, acho que é algo exatamente igual ao que fizemos – mas com adaptação, porque o nível de informação da criança mudou. Além disso, o conhecimento sobre que representação é essa, que aspecto da língua vai ser escrito, também é igual. Hoje em dia, você pergunta para a criança, inclusive para o adulto não muito alfabetizado, e eles pensam que o nome das pessoas e das coisas são a prioridade para se escrever. Há dificuldade de conceber na escrita o verbo, o adjetivo, a preposição; isso continua igual. Qual é então a diferença? Hoje em dia sabemos mais do ponto de vista linguístico e de aquisição da língua, sabemos que o predomínio nominal é muito forte na aquisição oral e também na aquisição escrita. O que ainda precisa ser feito é essa relação entre aquisição oral e aquisição escrita.



Essa perspectiva da construção da linguagem oral, na época da pesquisa, não foi muito evidenciada, correto?

Naquela época, o predomínio, do ponto de vista linguístico, era basicamente o estruturalismo. Depois houve muita influência de Chomsky, com a orientação inatista na linguística, que não coincidia exatamente com nosso ponto de vista, porque nós vínhamos de uma formação piagetiana, mais construtivista. Então a linguística, de maneira geral, não acompanhava nosso processo de descrição. Foi por volta de 1990, mais ou menos, que teve início a linguística cognitiva e começou-se a dar prioridade à comunicação, por um lado, e à semântica, por outro lado. Então se abandonou essa descrição tão formal da língua, que é própria de Chomsky, da gramática universal, e se foi muito para a descrição da aquisição da criança e para a descrição de uso da língua. O que nós conhecemos agora é muito posterior àquele momento, e por isso é interessante pensar numa relação. Porque, se na escrita temos esse predomínio nominal, no oral é igual. Essa dificuldade com verbo, adjetivo, preposição, advérbio também ocorre no oral. Há autores que explicam que esse predomínio nominal sobre o verbo existe porque a relação de significação entre o nome e o referente é mais ou menos direta. São os nomes das coisas, de algo que está presente. Ao contrário, o verbo, o adjetivo e a preposição indicam uma relação. Quando você diz “come”, trata-se de alguém que come algo. Quando diz “que bonito”, é um atributo relacionado a algo. Quando diz “sobre”, “debaixo”, também é relacional. Então, quando aparece o verbo, trata-se de uma cena que a criança tem que entender na aquisição do oral, qual aspecto dessa cena está sendo apresentado pelo verbo.


Quando você fala da mudança do tempo de aquisição da linguagem, pelo maior acesso ou rapidez, como pensa isso em relação a outros sistemas semióticos?

A aquisição do oral é multidimensional, se dá na multimodalidade. Na aquisição do oral, a criança está em um contexto, olha o interlocutor e é olhada por ele, o que também está acompanhado da posição do corpo, dos gestos, do objeto visualmente presente. Se eu falo do lápis, é porque o lápis está presente aqui. Na aquisição do oral, essa multidimensionalidade colabora para a compreensão. Na escrita não está presente essa multidimensionalidade. Por isso insisto muito que a leitura em voz alta do professor tem que ser dramatizada, tem que ser acompanhada de gestos, de olhares, de ênfases, de prosódia, porque a criança entende essa multidimensionalidade, que é o contexto de aprendizagem que ela conhece. Por outro lado, a escrita é linear, perde essa diversidade, por isso é muito importante recuperá-la na leitura em voz alta.

Na escrita, temos o elemento gráfico – e, dirigida à criança, temos também a ilustração. A criança compreende o desenho como uma ilustração figurativa, e sabe que a escrita é algo diferente. Parte do processo para ela é relacionar a ilustração com o texto, compreender qual é a relação existente entre os dois. O texto pode repetir a imagem, pode complementar a imagem, pode fazer referências recíprocas entre imagem e texto: há uma diversidade muito grande de relações. A criança sabe que é diferente e tem que aprender o tipo de relação que existe ali. Isso é a ilustração e o texto vistos por um lado, mas também é muito interessante a ideia de que o próprio texto é ilustrado. Hoje em dia, a tipografia – que é muito ligada às histórias em quadrinhos (HQs), à televisão, ao cinema – também representa no texto. Afinal, quais são os recursos de texto? O espaço gráfico (se está escrito em cima ou embaixo), o tipo de letra, a repetição... Você tem texto com uma repetição que pode ser desenhada. Na HQ, quando se desenha o grito, é possível fazer algo grande, ou algo pequeno, ou realizar um zoom, e dividir essa imagem em certo encadeamento... É super complexo e interessante de se estudar, porque a criança começa rapidamente a captar e a entender. Portanto, a questão semiótica está dentro do texto.

Sendo assim, estes são sistemas que existem um pouco integrados e um pouco em paralelo. A questão é saber quais são as relações entre os sistemas. Por isso eu insisto na literatura infantil, porque ela se utiliza desse conhecimento e o traz para a criança.

1Promovida pelo projeto Leitura e Escrita na Educação Infantil, coordenado pela UFMG, UFRJ, Unirio e Coedi/MEC


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Entrevista Ana Teberosky (parte 2)

terça-feira, 7 de abril de 2015

Razões pelas quais a meditação deve ser praticada nas escolas

Publicado por Maria Célia Becattini


“Se todas as crianças de oito anos aprenderem meditação, nós eliminaremos a violência do mundo dentro de uma geração.”

— Dalai Lama

Imagine que a meditação se torne uma prática regular na vida escolar das crianças. Basta pensar o quão diferente o mundo seria se cada criança for capaz de conectar ao oceano de consciência que permeia tudo, o desejo de fazer mal ao outros iria ser significativamente menor, pois a meditação nos permite descobrir através da experiência, quem realmente somos.

O problema na sociedade hoje é que estamos constantemente correndo de nós mesmos, e consequentemente, da verdade. Estamos tão ocupados com a correria do dia a dia que nunca tomamos tempo para descobrir quem somos no âmago de nosso ser. A maioria de nós aprendemos a ser algo que não somos, a nos ajustar para se conformar e obedecer às normas sociais. Aprendemos a colocar uma máscara e sermos escravos de nosso próprio ego. E nos tornamos tão bons nisso que somente a ideia de tirar essa máscara já causa um desconforto desagradável. Então traímos a nós mesmos e deixamos nosso ego comandar, ficamos insensíveis ao mundo e todos os seres que nele vivem. Vendemos a nossa alma por uma ilusão de quem somos, e no fundo, uma parte nossa sabe que algo está muito errado.

E se desde cedo, parássemos de correr de nós mesmos? E se aprendermos a olhar pra dentro desde a tenra idade?

Se as escolas ensinarem a meditação, as crianças podem descobrir suas verdadeiras paixões, seus interesses e potencial criativo. Elas não seriam tão incomodadas, inseguras e aprenderiam a viver para o momento presente.

A meditação ajuda a compreender a vida, através dela, as crianças não seriam tão propensas ao estresse, preocupações e doenças. Elas também poderiam desenvolver laços mais fortes com todos os seres e teriam menos necessidade de competir com seus semelhantes.


Muitos estudos clínicos têm demonstrado que a meditação desenvolve a capacidade do cérebro, e com isso, melhora o foco e a concentração. Além de fortalecer o sistema imunológico, protegendo o organismo contra doenças.

Como já foi mostrado aqui, estudos desenvolvidos pela Universidade da Califórnia revelaram que a prática da meditação aumenta o número de dobras no córtex cerebral e, com isso, melhora o processamento de informações e emoções. Os resultados foram publicados na revista Frontiers in Human Neuroscience.

Presume-se que quanto maior o número de dobras, melhor a capacidade do cérebro de processar informações, tomar decisões e formar memórias, além de aumentar o autocontrole. O córtex é a camada externa do cérebro e tem papel fundamental na memória, atenção, pensamento e consciência.



Uma outra pesquisa realizada pelo Instituto de Medicina e Prevenção Natural da Universidade de Maharishi, observou 201 pessoas com doença arterial coronariana (DAC) que se dividiram em um dois grupos: um programa de meditação transcendental e um programa de educação para a saúde. Depois de cinco anos de observação, o grupo que praticou meditação mostrou uma redução de risco de 48% de sofrer um acidente vascular cerebral.

O Departamento de Psiquiatria da Universidade Emory também chegou à uma conclusão semelhante em um estudo sobre o impacto da meditação no cérebro. Pesquisadores compararam a massa cinzenta no cérebro de praticantes Zen e não praticantes durante um longo período de tempo. Embora a massa cinzenta diminua normalmente com a idade, no caso dos praticantes Zen não houve nenhuma redução.

Felizmente a meditação nas escolas já é uma realidade e está acontecendo inclusive aqui no Brasil. Há um ano, as notas dos alunos do Centro de Apoio O Visconde, no Real Parque (zona oeste de São Paulo) melhoraram por causa da introdução de yoga e meditação.

Antes das aulas de português e matemática, 134 alunos fazem um conjunto de exercícios físicos e de respiração e praticam 20 minutos de meditação (fecham os olhos e mentalizam palavras ou sons).

A Sociedade Internacional de Meditação é a favor da incorporação da prática na rotina das escolas.


Basta imaginar o quanto futuras gerações podem ganhar com esta prática regular, os benefícios são extraordinários. É realmente importante implementar a meditação nas escolas, se vamos aprender a viver pacificamente uns com os outros, precisamos primeiro descobrir que a paz se encontra dentro de nós.

(Via)
- Veja mais em: http://despertarcoletivo.com/razoes-pelas-quais-a-meditacao-deve-ser-praticada-nas-escolas/

sábado, 4 de abril de 2015

Quando as emoções constroem novos caminhos: o desabafo e o papel do ouvinte

Publicado por Maria Célia Becattini

Por Nara Rúbia Ribeiro

Sempre existe em cada um de nós uma palavra não dita, um sentimento inconfesso e reprimido, um desejo implícito que quer ter vida. O nosso eu interno precisa de ar. Precisa respirar um pouco aqui fora, no mundo onde talvez ele possa ser compreendido e amado. Mas no cotidiano das urgências e dos prazos, onde o Ter impera e o Ser vai perdendo mais e mais status, já não há muito espaço para a expressão do sentir. E, se poucos são aqueles que param para ponderar acerca das próprias emoções e desejos, quem teria, nos dias de hoje, tempo e interesse de ouvir o desabafo do outro?

Na tentativa de sublimar os seus conflitos internos, os poetas versejam o que punge, os pintores delineiam as emoções em traços e tons, os escultores se esmeram em dar expressão concreta aos abstratos da alma, os músicos dão som aos ais e às alegrias mais profundas. Mas, e aqueles que não se inclinam às artes? A estas, que correspondem à esmagadora maioria de nós, resta a velha terapêutica da amizade: o desabafo.

Desabafar é fazer fluir a palavra para dar vazão a uma emoção afogada em nossa represa interior. A dor pode deslizar nas ondas das frases, a alegria pode transbordar dos verbos e dos substantivos mais delicados… O desejo, a frustração, tudo muda quando dito, quando confessado. A emoção recebe rajadas de luz. Mas poucos, infelizmente, são aqueles que, hoje, ao apregoarem ou até jurarem uma sincera amizade, emprestam seus ouvidos ao outro.

Penso que talvez a maioria de nós não perceba que quem desabafa não quer conselho. Não quer norte. Não quer reprimenda ou aplauso. Só quer saber que outro humano se importa. Que outro humano é capaz ouvir e talvez dimensionar a sua dor. Quer sentir que no mundo há outros que também sentem e que compreendem os seus vazios, ou as suas falsas plenitudes.

Talvez o que temamos seja ver no outro a nossa dor espelhada a que há muito não notamos, e que está abafada, aturdida, asfixiada pela pressa cotidiana, mas que, em silêncio, sangra. Talvez o que tenhamos, de fato, seja o medo de constatar a imensa humanidade que ainda resta em nós, embora nos cerquemos de máquinas e números e metas concretas.

Não ouvir, não querer ler no outro as linhas mais significativas do seu íntimo é prova incontestável de que a amizade inexiste. A amizade consiste na delicadeza do “estar disponível” para sentir o outro. Ela é o exercício da empatia.

Aquele que é incapaz de ouvir, por mais bem-sucedido que seja no mundo dos fatos, é ainda indigente nos terrenos da alma. É estrangeiro no solo da afeição. E nem percebe que, de tanto omitir-se de ouvir, a sua alma emudece e se esquece, um tanto mais e a cada dia, do existir.


Nara Rúbia Ribeiro: colunista CONTI outra
Escritora, advogada e professora universitária.
Administradora da página oficial do escritor moçambicano Mia Couto.
No Facebook: Escritos de Nara Rúbia Ribeiro
Mia Couto oficial

A neurociência explica as fraquezas da tecnologia de realidade virtual.

Publicado por Maria Célia Becattini

Postado por: Gizmodo.uol.com.br em Tecnologia 3 de abril de 2015 - 11:30:10

A realidade virtual está chegando e parece que dessa vez vai funcionar. Mas vamos falar a verdade: ainda existem muitas coisas que a realidade virtual faz que não enganam o cérebro humano. E isso tem pouco a ver com a tecnologia — em vez disso, o problema está na neurociência e nos limites perceptivos do nosso cérebro.
>>> A nova era de jogos em realidade virtual promete apagar os fracassos do passado

É verdade, no últimos tempos ouvimos falar de muitos sistemas de realidade virtual que são bem melhores que aqueles dispositivos desajeitados e que causavam náuseas dos anos 90. Como o HTC Vive e o Sony Project Morpheus, por exemplo – isso sem contar o Oculus Rift que evoluiu muito desde a aquisição pelo Facebook por US$ 2 bilhões. E ainda temos a Magic Leap, que é fantástica mesmo que não saibamos direito o que o pessoal de lá está fazendo.

Essa nova linha de dispositivos é boa o suficiente para impressionar qualquer um que os use, mesmo que as imagens ainda sejam meio pixelizadas e com um pouco de lag. As pessoas do mundo da realidade virtual chamam esse sentimento de “presença”. Mas é possível enganar um pedaço do cérebro sem enganar outra parte.

Quando jornalistas escrevem sobre como ficaram impressionados com o mais recente dispositivo VR, eles estão falando sobre o impacto emocional causado ao ver por cima dos muros de um castelo a invasão de um exército inimigo. Eles não querem dizer que a realidade virtual é indistinguível da realidade. Como Jason Jerald, um consultor de tecnologia para empresas de VR, diz, “Nós podemos nos engajar bastante em mundos cartunescos”. As imagens não precisam estar perfeitas para criar o sentimento de presença.

Mas essas imperfeições se tornam mais óbvias conforme você passa mais tempo com um desses dispositivos. Ou quando tenta andar e se virar quando os está usando. São muitos os motivos, tanto conscientes quanto inconscientes, que fazem seu cérebro rejeitar a realidade de uma tela montada a alguns centímetros dos seus olhos.
Latência e o problema do enjoo de movimento

Chame do que quiser, mas é fato que náuseas acontecem e são relacionadas à realidade virtual. O principal motivo disso é a latência, ou o pequeno (mas perceptível) atraso entre quando você move a sua cabeça na realidade virtual e quando a imagem em frente aos seus olhos muda — criando um descompasso entre os movimentos que sentimos (com nossos ouvidos internos) e a imagem que vemos (com os nossos olhos).

Na vida real, esse delay é zero. “Nossos sistemas sensorial e motor são fortemente acoplados”, diz Beau Cronin, que obteve seu doutorado em neurociência computacional no MIT e está escrevendo um livro sobre a neurociência da realidade virtual.

Na realidade virtual, no entanto, a latência pode ser de algo como 20 milissegundos, ou ainda mais dependendo da aplicação. Nunca será zero já que um computador sempre precisa de tempo para registrarnossos movimentos e desenhar a imagem nova.

Então quão baixa a latência tem que ser para não notarmos? Jerald, que fez sua pesquisa de doutorado sobre os limites perceptivos da latência, descobriu que varia bastante: suas cobaias mais sensíveis notavam lags de 3,2 milissegundos, os menos sensíveis chegavam a centenas de milissegundos. De fato, a sensibilidade a enjoo de movimento pode variar muito também. Talvez nunca seja possível projetar um dispositivo que não faz ninguém passar mal, mas é possível criar um design para certas aplicações que não fará mal à maioria das pessoas.
Meus olhos! O conflito vergência-acomodação

Uma coisa estranha ocorre na realidade virtual: você pode olhar o horizonte a partir de uma praia virtual, mas ainda vai se sentir preso em uma sala. Isso pode ser, em parte, o resultado de um feedback sutil dos músculos ao redor dos seus olhos. No pior dos casos, isso pode causar fadiga ocular e dores de cabeça fortíssimas.

Eis o que acontece. Coloque um dedo em frente ao seu rosto e mova-o gradualmente em direção ao seu nariz – seus olhos vão naturalmente se aproximar para acompanhar o dedo. Isso é a vergência, quando seus olhos convergem e divergem para olhar para objetos próximos ou distantes, respectivamente. Ao mesmo tempo, as lentes dos seus olhos se focam para que a imagem do seu dedo permaneça clara enquanto o fundo está embaçado. Isso é chamado acomodação visual.

Na realidade virtual, no entanto, a vergência e acomodação visual não são tão integradas. A tela de um headset comum fica a cerca de três polegadas dos seus olhos. Um par de lentes dobra a luz, e então a imagem na tela parece estar entre um e três metros de distância. No entanto, qualquer objeto mais distante ou próximo a isso pode ficar borrado. E toda a tela sempre está focada, independentemente de para onde seus olhos estão olhando. Por isso, passar um período longo em VR pode ser algo desconfortável.

Algumas ideias já surgiram na tentativa de solucionar esse problema. Vamos falar da Magic Leap. A empresa não divulgou muita coisa publicamente até agora, mas suas patentes mostram um interesse na tecnologia de campo de luz, quando uma tela de pixels é substituída por uma matriz de pequenos espelhos que refletem a luz diretamente para os olhos. Os objetos renderizados através da luz supostamente atingem uma profundidade real, entrando e saindo de foco como ocorre com objetos reais.
A armadilha de um campo de visão amplo

Para ser verdadeiramente imersiva, a realidade virtual precisa mostrar para você o que está em frente aos seus olhos — e também o que está ao lado deles. O problema? “Quanto mais amplo o campo de visão, mais sensível você é ao movimento”, diz Frank Steinicke, um professor da Universidade de Hamburgo que passou 24 horas dentro de um Oculus Rift como um experimento.

Já viu alguma coisa voar nos cantos da sua visão? Isso acontece porque sua visão periférica é especialmente sensível ao movimento. Capturar movimento na periferia é fundamental para uma experiência imersiva, mas isso também significa que capturar isso com precisão é a chave para uma experiência que não causa náuseas. A visão periférica segue seu próprio caminho em direção ao cérebro, separado do que é usado pela sua visão central. Ela parece estar bem próxima ao seu senso de orientação espacial.

Como as visões periférica e central funcionam de maneira diferente, isso significa que um campo amplo de visão, o que incorporaria ambas as visões, precisa solucionar dois problemas diferentes. Uma tremulação próxima ao seu olho que não é perceptível se torna uma distração na sua visão periférica.
Navegando em espaços virtuais (ou: o enjoo de movimento ataca de novo)

Mesmo em um mundo com rastreamento perfeito de movimento e latência zero, anda teremos enjoo de movimento. E isso significa que há uma dificuldade adicional ao criar uma experiência real em espaços virtuais.

Isso remonta à incompatibilidade entre as imagens que vemos e os movimentos que sentimos. Se você controla um personagem com um joystick em um ambiente virtual imersivo, sempre haverá uma incompatibilidade. O único jeito de evitar isso é com movimentos idênticos tanto no mundo real quanto no virtual, o que significa andar fisicamente um quilômetro se o seu personagem andar um quilômetro. Não é muito prático para quem quer jogar na sala de estar.

Uma solução simples envolve game design, que é um tópico de 53 páginas no Guia de Boas Práticas da Oculus. Como exemplo, quando as pessoas são colocadas em um cockpit virtual, elas podem ficar sentadas ou dirigir, ou até mesmo voar, com pouco enjoo de movimento — como quando você dirige um carro no mundo real. Mas isso obviamente acaba com a diversão de uma experiência verdadeiramente interativa de realidade virtual.

Também há a possibilidade de usar esteiras omnidirecionais. Uma ideia ainda mais intrigante é a caminhada redirecionada, que explora o fato do seu senso de direção não ser perfeito. Pessoas que tentam andar em linha reta no deserto, por exemplo, vão naturalmente andar em círculos. Estudos na USC e noMax Planck Institute, entre outros, descobriram que as pessoas podem ser sutilmente induzidas a pensarem que estão andando em um espaço maior do que realmente estão.
Realidade virtual como a mais avançada experiência neurocientífica

Empresas de realidade virtual sabem muito bem que a tecnologia não está exatamente pronta para estrear. A Oculus só lançou seu hardware de PC como “kit de desenvolvimento”, e a data de lançamento para uma versão para consumidores ainda não foi definida. Outros produtos já estão disponíveis, como o Samsung Gear VR e o Google Cardboard, mas a realidade virtual sofreu muito com alta expectativa antes, e seus entusiastas temem que isso possa ocorrer novamente.

Admitir que ainda temos problemas neurocientíficos não solucionados em realidade virtual não significa que a a tecnologia está destinada ao fracasso. Em vez disso, significa algo ainda melhor: o entendimento de que a realidade virtual sofre para nos enganar pode nos levar a uma compreensão melhor da complexidade do cérebro humano. Ou, como disse Cronin, “O guia de boas práticas da Oculus talvez seja a coisa mais substancial já escrita em neurociência sensório-motor aplicada.”

E mais adiante, tecnologia ainda mais sofisticada de realidade virtual pode expandir dramaticamente o que fazemos em experimentos neurocientíficos. William Warren, um professor de ciência cognitiva na Universidade de Brown, nos EUA, estudou navegação espacial ao colocar pessoas dentro de ambientes virtuais com wormholes. Formas cruas de realidade virtual para camundongos, moscas de frutas e peixe-zebra já são parte comum da pesquisa neurocientífica.

Ao confundir deliberadamente o cérebro, podemos aprender como ele funciona em situações comuns. E, além disso, isso pode nos dar alguns jogos sensacionais também.

Imagem de topo: igorrita/shutterstock

Fonte: GizModo.Uol.com.br