Autistas dependem de tratamento continuo para que a superação aconteça. É o caso das gêmeas, Isabela e Bárbara, autistas e muito, muito felizes
09/04/2014 09:00:23
Por: Vvale
Por Mariana Honesko
Isabela e Bárbara têm 11 anos, estão na mesma escola e interação com colegas e professoras é motivo de comemoração
O transtorno vai muito além do popular “mundinho só dele”. A dificuldade de interação social e comportamento repetitivo também compõem o perfil de quem é autista. A ciência ainda não sabe dizer exatamente os motivos que levam ao nascimento de pessoas com o transtorno. Sabe, contudo, que o tratamento diário e incansável, é capaz de trazer à tona resultados bastante otimistas.
Os especialistas lembram que é preciso esforço: a superação não ocorre de maneira rápida, como a que mostrou há pouco a novela “Amor à Vida”. Na ficção, a personagem Linda é autista e mesmo sem receber tratamento desde a infância, dribla obstáculos já na idade adulta sem grandes dificuldades. O final feliz é prematuro tanto quanto o processo: Linda namora, casa e se descobre uma artista em potencial. Aos autistas, garantem os estudiosos, tudo é, de fato, possível, mas, é preciso caminhar com os pés no chão.
Afinal, o que é o autismo?
Não se trata de doença, antes, de um transtorno global do desenvolvimento. “Ele é mais frequente em meninos e geralmente diagnosticado a partir dos três anos, mais ou menos. Os autistas têm sensibilidade auditiva, o toque dói e de modo geral, eles não sabem lidar com mudanças”, explica a psicóloga Josiane Flaresso, que atende cinco autistas em seu consultório.
O autismo pode ser solitário ou vir acompanhado de outras comorbidades, quando outras síndromes “abraçam” o transtorno. “Por exemplo, um autista com hiperativismo”, sugere Josiane. O diagnóstico médico depende de uma série de exames, mas é o neuropediatra o responsável pela confirmação. O transtorno é crônico mas passível de resultados quando trabalhado desde muito cedo e de maneira continua. Os pacientes da psicóloga, por exemplo, estão no ensino regular e nele encontram a possibilidade de quebrar as barreiras impostas pela própria síndrome. Além disso, a via é de mão dupla: aprende quem é autista e quem convive com ele.
Professora Keidy, do Rio d’Areia, aposta na interação social dos autistas
A professora Keidy Martins Chincoviaki Borges considera-se uma dessas aprendizes. Ela é especialista em educação especial e há três anos trabalha como professora de apoio na escola estadual Bernardina Schleder, no bairro Rio d’Areia, em União da Vitória. “Aprendo muito, todo dia”, sorri. Keidy acompanha um adolescente, de 15 anos, do nono ano. O garoto fica na escola apenas pela manhã e, além da Bernardina, a professora auxilia também estudantes com outras dificuldades, em outros estabelecimentos de ensino. Recentemente a professora atuou na sala de um estudante do Astolpho Macedo de Souza, com deficiência física neuromotora. “Que se formou no ano passado”, diz, com orgulho. “O que importa é isto, que o aluno se supere, se integre na escola. Ele vai aprendendo do seu jeito. Não tem uma receita própria”, ensina.
Com seu novo pupilo, Keidy descobriu como explorar melhor a potencialidade dos autistas. “Ele tem habilidade para o desenho, mas a parte acadêmica tem maior comprometimento. Ele não consegue falar toda a tabuada, mas no papel desenvolve toda ela”, conta. O apreço do adolescente por músicas e filmes também foi levado para a sala de aula. Questões de higiene e senso de direção, ainda, são discutidos na escola de maneira mais lúdica. “Hoje ele já faz trabalhos em grupos, adora tirar fotos, o que era uma dificuldade grande no começo, se higieniza sozinho e aceita um pouco de toque”, comemora a professora de apoio.
Psicóloga Josiane Flaresso defende rotina: para autistas, ela é símbolo de segurança
Diferente, “só que não”
A onda de inclusão marca as atividades da escola Vitória Fernandes, de União da Vitória. O estabelecimento é público, mas com perfil privado. Pequena e acolhedora, a instituição foi escolhida pelos pais de quatro alunos autistas. “Um deles, inclusive, vem de São Cristóvão para estudar aqui”, observa a pedagoga Michelly Fink. Os autistas matriculados na instituição têm tratamento igual, sem distinção. “Se fosse algo diferente não seria inclusão. Por isso as atividades são adaptadas às condições de cada um. O limite é respeitado”, sorri a pedagoga. Assim, todos, sem exceção, precisam respeitar regras, horários e comportamento. Mas, por lá, é o carinho com os alunos o que motiva a frequência sempre regular dos baixinhos e a certeza de que os filhos estão bem cuidados.
Para a técnica contábil Simone Aparecida Bianchini, mãe das gêmeas Isabela e Bárbara, de 11 anos, o trabalho da escola é responsável pelo grande estímulo que as garotas precisam receber. “A escola é ótima. Toda a equipe tem muito amor. As meninas têm que ter bastante incentivo e a escola é fundamental”, sorri. Além da rotina em período integral, as gêmeas têm ainda acompanhamento psicológico, fonoaudióloga e aulas de natação e equoterapia, intercaladas para não deixar a rotina muito cansativa. “Elas são tudo. A gente vive por elas”, sorri a mãe.
Atendimento na rede municipal
Ambas as secretarias da Educação dispõem de auxílio para os autistas e portadores de outras necessidades especiais. Nos estabelecimentos de ensino de Porto União, contudo, não há nenhum autista matriculado. Ainda assim, eles oferecem sala de recursos multifuncionais e acompanhante, dependendo do caso, fornecido pelo município. Em União da Vitória, além da sala de recursos, há a professora auxiliar e ajuda nos encaminhamentos para profissionais medidos. A sala multifuncional, a Secretaria de Educação, está presente em 18 escolas.
Rotina é sempre bem-vinda
Os autistas temem mudanças. “Para eles é tudo muito mais intenso. Se nós já sofremos com alguma alteração, imagine eles”, compara Josiane Flaresso. Por isso, manter uma rotina diária é fundamental. Para os autistas, ela representa segurança. “Quando eu sei que o aluno vai mudar de professora no ano que vem, por exemplo, eu preciso preparar ele já no final do ano”, conta a psicóloga. O método também foi adotado no bairro Rio d’Areia, pela professora Keidy. “Quando vai ter uma atividade fora da sala de aula eu preciso falar com antecedência, explicar o que vai acontecer para o meu aluno”, pontua.
Para adultos com autismo, os métodos de tratamento envolvem especialmente a adaptação de conteúdos. Para as crianças, contudo, versões mais lúdicas, como o Teacch, podem ajudar. O programa é clínico e ao mesmo tempo educacional que utiliza figuras, imagens, formas concretas, para indicar sequências e informação.
2 de abril, Dia do Autista
A data foi escolhida para celebrar a conscientização sobre a doença. A cor azul é uma referência ao aparecimento mais comum do transtorno em meninos. O dia 2 é uma criação da Organização das Nações Unidas (ONU), em 2007. Em 2010, a ONU declarou que cerca de 70 milhões de pessoas em todo o mundo tenham a síndrome.
A data foi escolhida para celebrar a conscientização sobre a doença. A cor azul é uma referência ao aparecimento mais comum do transtorno em meninos. O dia 2 é uma criação da Organização das Nações Unidas (ONU), em 2007. Em 2010, a ONU declarou que cerca de 70 milhões de pessoas em todo o mundo tenham a síndrome.
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