quarta-feira, 22 de julho de 2015

Comorbidades e recaídas do distúrbio de aprendizagem: Parte II

Publicado por Maria Célia Becattini

É comum um paciente apresentar características de um distúrbio predominante e características de outro ou outros distúrbios secundários, não só nos comportamentos mas também nos de aprendizagem. Mas não é por isso que se justifica a verdadeira enxurrada de informações descabidas que, atualmente, se multiplica sem nenhum critério ou intenção que não seja o financeiro (ao menos é o que parece). Já existe até um curso que propõe uma “formação em Dislexia” e que prega comorbidades sem sequer questionar se é mesmo possível uma combinação dos distúrbios citados.

Em primeiro lugar, é preciso verificar se o distúrbio principal é mesmo o que está diagnosticando ou se, por uma falha na definição dos sintomas, o diagnóstico está incorreto. A partir do momento que se tem a certeza de que o indivíduo, realmente, tem determinado distúrbio, é preciso verificar se as comorbidades apresentadas são, de fato, coexistentes ou se são apenas alguns sintomas isolados. Somente depois de todas essas constatações é que se pode afirmar que o indivíduo tenha algum distúrbio em comorbidade.

Como as publicações equivocadas se multiplicam, inclusive com aceitação e divulgação da mídia, fica difícil desvelar este assunto, até mesmo porque, a cada dia, se “inventa” uma comorbidade a mais e, com isso, afasta-se cada vez mais da realidade dos casos que, de fato, existem. Mas, ainda assim, tentarei esclarecer os mais descabidos.

Um dos maiores absurdos que se divulga e publica em comorbidades é o do TDAH EM COMORBIDADE À DISLEXIA. Basta raciocinar um pouco para verificar que isso, na grande maioria dos casos, é impossível. Para elucidar esta colocação, basta dizer que o primeiro é um transtorno comprovadamente (por vários estudos) nos neurotransmissores, geralmente apresenta outros comprometimentos e, com freqüência, acontece em comorbidade ao TOC (Transtorno Obsessivo-compulsivo) e á antiga Síndrome de Tourette.

O TDAH, não deve jamais ser tratado apenas pela Psicologia ou, mais criminoso ainda pela Fonoaudiologia. Isto mesmo, dizendo que é um ato desumano e criminoso tentar tratar um distúrbio tão sério apenas com terapia ou, pior inda, com técnicas de Fonoaudiologia. Ao se detectar este transtorno, deve-se encaminhar, imediatamente, o paciente a um psiquiatra ou neurologista e não perder tempo precioso. Inventando que possa ser um comorbidade da Dislexia. Esta, sim, é que pode estar associada ao TDAH, ou seja, uma pessoa com TDAH pode apresentar Dislexia ou características disléxicas. O contrário, o disléxico, com diagnostico comprovado de dislexia, não poderá apresentar TDAH como comorbidade, a menos que os tratamentos a ele oferecidos pelas obsoletas terapias o façam regredir ao ponto de desenvolver distúrbios coexistentes. Neste caso, não foi o distúrbio que apresentou comorbidades, mas sim o tratamento insuficiente que agravou os sintomas e desencadeou outros distúrbios.

Devo dizer que, diante de muitos estudos realizados, pode haver um grupo de disléxicos apresentando alterações nos neurotransmissores. Isso é aceitável e, para estes casos de Dislexia, pode até haver comorbidades com o TDAH, mas é preciso ter muita atenção quanto a isso. Primeiro, por ser minoria, não é a maioria disléxica que apresenta estas alterações. Segundo, porque, como já disse, distúrbios que apresentam comprovada alteração nos neurotransmissores ou outras alterações significativas devem ser imediatamente encaminhados á Psiquiatria ou Neurologia e não podem ser tratados como simples terapia, muito menos, servirem de tema para debates e palestras em áreas correlatas, cujo teor é distorcido e cujos conceitos são ultrapassados e ineficientes. O que, ao invés de elucidar o controle e a cura, acaba por retardar este processo, fugindo do tratamento indicado ao caso.

Resumindo, a Fonoaudiologia não é a área adequada para tratar os distúrbios de aprendizagem, da mesma forma que a Psicologia só pode tratar o lado psicológico dos distúrbios. Se o distúrbio é muito grave, exige o tratamento com Neurologistas ou Psiquiatria. Para tratar as conseqüências psicológicas como a baixa autoestima, por exemplo, deve-se procurar um psicólogo e, para tratamento complementar, realfabetização, treinamento de memória e outros tratamentos neste sentido, é o psicopedagogo quem deve atuar.

Fonte: Livro transtornos de comportamento e distúrbios de aprendizagem; Autor: Lou de Olivier 





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