Pouco ou nada se pública sobre comorbidades e recaídas nos distúrbios de aprendizagem e considero isso uma grande falha, já que, em qualquer distúrbio, especialmente nos adquiridos por acidentes, é comum haver fases de melhoras e fases de piora dos sintomas, assim como é comum um paciente apresentar características de um distúrbio predominante e características de outro ou outros distúrbios secundários, não só nos comportamentais mas também no de aprendizagem.
Devo frisar que essas variações de fases, embora possam ocorrer em outros tipos de distúrbios de aprendizagem, são mais comuns nos adquiridos por acidente, em sua maioria, decorrentes de anoxia ou hipóxia. E que as comorbidades podem ocorrer em qualquer tipo de distúrbio de aprendizagem ou de comportamento.
As fases de melhora ou piora dos sintomas, geralmente, são cíclicas, mas podem ocorrer também diante de algum tipo de choque que o paciente enfrente, uma situação inesperada que o coloque em risco ou em pressão, obrigando-o a uma rápida decisão. Nesta situação ou na seqüência dela, geralmente ocorre a inversão dos sintomas, ou seja, se o paciente estava em uma fase ativa dos sintomas, pode ocorrer uma súbita melhora; se estava em uma fase sem manifestação dos sintomas, pode ocorrer o retorno imediato dos mesmos, até de uma forma mais acentuada do que a anteriormente.
Isso é bem observado e bem documentado em estudos sobre autismo, TOC, e outros de comportamentos, mas, infelizmente, pouco ou nada se registra em se tratando dos distúrbios de aprendizado que, na verdade, seguem os mesmos mecanismos, mudando apenas a forma como se manifestam e, obviamente, a área cerebral que atingem, lesando-a em maior ou menor grau. A diferença é que, nos distúrbios comportamentais, a tendência é sempre, ou quase sempre, piorar os sintomas e, nos de aprendizagem, pode ocorrer a piora ou a melhora diante do inesperado choque.
Um os exemplos mais importante esta na Dislexia Adquirida, seja por qual fator, desde que externo. Este tipo de dislexia apresenta momentos de normalidade, nos quais o paciente lê e escreve normalmente e, a partir de um choque ou situação inesperada e tensa, passa a apresentar dificuldades em ler e/ou escrever e, dependendo da gravidade do choque, pode voltar a inverter as letras e codificações destas em seu cérebro, tornando a escrita e leitura praticamente nulas. Isso é comum nas dislexias adquiridas, pois o paciente, antes do acidente que lhe causou o distúrbio, lia e escrevia normalmente. Então, o que ocorre é que, em fases de calmaria, digamos assim, ele consegue equilibrar seu funcionamento cerebral e expressar-se normalmente. Em fases mais agitadas, há uma espécie de curto-circuito no funcionamento cerebral, e isso provoca as falhas na memória, as inversões de letras (dentro do cérebro, não na execução de escrita e leitura). Mas pode ocorrer o inverso. Em fases calmas, o distúrbio pode acentuar-se e diminuir os sintomas em fases mais agitadas, e isso, ao invés de parecer absurdo, deve ser visto como natural, já que, para alguns pacientes, a calma é sinônima de inércia e, neste estado, é comum acomodar o cérebro que passa a ser improdutivo. Podem ainda ocorrer variações de melhoras e pioras nas duas fases agitada e calma. Isso também pode ocorrer na disgrafia, discalculia, e em outros distúrbios de aprendizagem, embora em menor grau ou freqüência.
Sabendo disso, é possível caminhar para um diagnóstico e tratamento mais eficazes, já que a análise deve estar concentrada na variação dos sintomas e no fato de estes manifestarem-se em decorrência de uma situação incomum. Por isso, volto a dizer que não se deve insistir nos fatores psicológicos pura e simplesmente quando se analisa e busca-se o diagnóstico para distúrbios de aprendizagem. Por mais que o fator psicológico exista, o principal desencadeante é mais complexo e exige uma intervenção mais ampla do que a Psicologia ou Psicopedagogia possa fornecer. Em casos de Dislexia Adquira, o aconselhável é que se busque o tratamento principal na Neurologia e/ou na Neuropsicologia, deixando a Psicologia e a Psicopedagogia como alternativas para realfabetização e manutenção do tratamento principal. Ou, neste caso específico, como tratamento do choque ou da tensão e não do distúrbio propriamente dito.
Fonte: Livro transtornos de comportamento e distúrbios de aprendizagem; Autor: Lou de Olivier
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