sexta-feira, 18 de abril de 2014

Bate-papo sobre o TDAH com a neuropsicóloga Gislaine Gil

Postado por Maria Célia Becattini


A doença atinge até 5% das crianças brasileiras e, em boa parte dos casos, as acompanha até a vida adulta. Entender o distúrbio pode ajudar a tratá-lo melhor. O maior problema do transtorno de déficit de atenção e hiperatividade, o TDAH, é identificar corretamente seus sintomas.

Conversamos com a Dra. Gislaine Gil, neuropsicóloga pelo Instituto de Psiquiatria do Hosptal das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP sobre o TDAH, Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade, que tanto

Gislaine Gil é a fundadora do Vigilantes da Memória e autora do livro “Ensinar a Lembrar: guia prático que ajuda a reconhecer e melhorar problemas de memória”. Conheça mais do trabalho da Dra. Gislaine Gil no site: www.vigilantesdamemoria.com.br

Acertei Saúde: O que é o TDAH?
Dra. Gislaine Gil: O TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade) é um transtorno que caracteriza a pessoa que tem desatenção e/ou hiperatividade-impulsividade, mais frequente e grave do que aquele tipicamente observado em pessoas em nível de desenvolvimento semelhante. Na desatenção, a pessoa tende a dar a impressão de que a mente está em outro lugar. A hiperatividade pode manifestar-se por inquietação; como incômodo em permanecer sentado por um longo período de tempo. A impulsividade manifesta-se como impaciência e dificuldade em aguardar a sua vez. Essas manifestações comportamentais geralmente aparecem em vários contextos sociais como na escola, profissionais ou sociais e atrapalham a qualidade de vida da pessoa e de seus familiares.

Acertei Saúde: Como diagnosticar um adulto com TDAH?
Dra. Gislaine Gil: O adulto com TDAH apresenta determinados comportamentos em sua vida diária observável como:
- Excesso de trabalho, pois está a todo o vapor, e logo é rotulado de “workaholic”.
- Apresenta término prematuro de relacionamento por não prestar atenção no (a) companheiro (a) e ser desorganizado no próprio relacionamento.
- Ser impulsivo ao dirigir.
- Cometer erros por falta de atenção quando tem de trabalhar num projeto chato ou difícil.
- Deixar um projeto pela metade depois de já ter feito as partes mais difíceis.
- Ter dificuldade para fazer um trabalho que exige organização.
- Evitar ou adiar trabalhos que exigem muita atenção.
- Colocar as coisas fora do lugar e depois ter dificuldade para encontrar os objetos em casa ou no trabalho.
- Distrair-se com barulhos a sua volta.
- Ter dificuldade para lembrar de compromissos ou obrigações.
- Sentir-se inquieto (a) ou agitado (a).
- Terminar as frases das pessoas antes delas.
- Interromper os outros quando eles estão ocupados.

Acertei Saúde: Quando o TDAH não é diagnosticado na infância, quais as consequências que pode trazer ao adulto?
Dra. Gislaine Gil: Quando adultos não são diagnosticados e tratados na infância, podem apresentar:
- abuso de álcool e drogas,
- comportamento delinquente,
- facilidade para contrair doenças sexualmente transmissíveis,
- problemas conjugais com o aumento do índice de divórcios; pelo cônjuge ser cronicamente desatento e desorganizado.

Acertei Saúde: Existe uma epidemia de TDAH ou a doença é superdiagnosticada?
Dra. Gislaine Gil: O que existe é uma prevalência variando entre 5 a 17% da população brasileira com o transtorno. Nesse momento, a procura de um especialista que entenda da patologia é fundamental para o correto diagnóstico, assim como avaliação neuropsicológica para verificar comorbidades e guiar o tratamento e prognóstico.

Acertei Saúde: O TDAH é uma doença hereditária?
Dra. Gislaine Gil: Estudos científicos com famílias que adotaram crianças ou que tiveram gêmeos com o TDAH indicam que este é um problema fortemente herdado. Essas pessoas apresentam geralmente alteração no funcionamento do cérebro relacionada às regiões conhecidas como lobos frontais, corpo caloso, gânglios da base e cerebelo que acarretam nos sintomas de atenção, hiperatividade e/ou impulsividade.

Acertei Saúde: O TDAH pode estar associado a outros transtornos psiquiátricos como depressão ou TAB?
Dra. Gislaine Gil: Sim, o TDAH pode estar associado a outros transtornos psiquiátricos como depressão, TAB, ansiedade, tique e personalidade antissocial; é o que chamamos de comorbidade. A presença das comorbidades dá outra coloração ao problema, dificultando muitas vezes seu reconhecimento. Também, quando há comorbidades, o tratamento é modificado na medida em que outras medicações ou tratamentos não medicamentosos (como terapia cognitiva comportamental, estimulação cognitiva, entre outras) são necessárias juntas, antes ou depois da medicação específica para o TDAH. O prognóstico que é como ocorre a evolução do problema também se altera quando existem uma ou mais comorbidades.

Acertei Saúde: Quais são as formas de tratamento?
Dra. Gislaine Gil: O tratamento adequado para as pessoas com o TDAH é a combinação de medicamento indicado pelo médico, orientação ao cônjuge, além de técnicas específicas obtidas na linha cognitiva-comportamental; que no Brasil é uma atribuição exclusiva de psicólogos. Não existe, até o momento, nenhuma evidência científica de que outras formas de psicoterapia auxiliem nos sintomas de TDAH.
Os medicamentos de primeira escolha pelo médico são: Lis-dexanfetamina, Metilfenidato (ação curta) e Metilfenidato (ação prolongada).
Na TCC há aprendizagem em autocontrole, modulação do comportamento social, regulação da atenção, técnicas de autoinstrução, registro de pensamentos disfuncionais, solução de problemas, automonitoramento e autoavaliação, planejamento e cronogramas.

Acertei Saúde: Há cura para o TDAH?
Dra. Gislaine Gil: Não há cura, mas temos opções de tratamento que melhoram os sintomas e, consequentemente, melhoram a qualidade de vida da pessoa e das pessoas que convivem ao redor.

About the Author: Patricia Canarim
redacao@acerteisaude.com

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