Ficou no passado a disputa no campo científico que colocava de um lado a supremacia dos aspectos biológicos e do outro a predominância das questões socioambientais como fatores que definem a aprendizagem e o desenvolvimento humanos. A avaliação foi feita nesta quarta-feira (26) pela neurocientista Suzana Herculano Houzel, que também participou de debate no Senado dentro da Semana de Valorização da Primeira Infância e Cultura da Paz.
A audiência pública conjunta de três comissões (CE, CAS e CDH) contou ainda com a participação das especialistas francesas em neurociência e psiquiatria Bernadette Rogé, que abordou o tema Autismo e Neurociências, e Françoise Molenat, tratando do estresse na gravidez. Outro expositor foi o neurofísico brasileiro Alfred Sholl-Franco, também professor da UFRJ.
Conhecida por seu trabalho de divulgação científica, em programas de televisão e colunas em jornais, Suzana Herculano afirmou que hoje é consensual a ideia de que o desenvolvimento e a capacidade de aprendizagem se definem tanto pela herança genética quanto pelos estímulos e influências recebidas desde a infância nos diferentes círculos de socialização.
Como exemplo da força do ambiente na incorporação de modelos de comportamento, a neurocientista disse que crianças que sofrem maus tratos têm mais chance de se transformarem em adultos violentos.
— Eu me envergonho de um país que se insurge contra a iniciativa de regulação para o fim da palmada, onde se valoriza a ideia de que se ensina pela violência — criticou, referindo-se à reação de pessoas contrárias à Lei Menino Bernardo (Lei 13.010/2014), em vigor desde junho.
Suzana Herculano citou estudo, realizado na Austrália, que relaciona uma deficiência genética ao controle inadequado dos níveis de serotonina no cérebro, o que predispõe a comportamentos agressivos. Mesmo nesse caso, os dados mostraram que os desarranjos hormonais eram muito mais elevados nas pessoas que, além do problema genético, enfrentaram abusos e violência na infância.
— É importante dizer, portanto, que gentileza gera gentileza, o que poderá se refletir inclusive em mudanças nos circuitos neuronais — disse.
A neurociência estuda a anatomia e a fisiologia do cérebro e suas funções, o que inclui o comportamento e o pensamento, bem como os mecanismos de regulação orgânica e interação psicossocial. Entre as abordagens, estão os estudos sobre patologias e lesões anatômicas e suas consequências funcionais, como as deficiências mentais. Outro campo busca compreender a inteligência e o desenvolvimento da capacidade de aprendizagem.
Estresse
Françoise Molenat, com formação em psiquiatria, abordou a importância da prevenção do estresse durante a gravidez e também na primeira fase da maternidade, quando são frequentes as mães enfrentarem depressão. Segundo ela, essa é uma questão decisiva para o bom desenvolvimento do ser, desde a vida uterina até sua futura adaptação social.
— O estresse é um fator positivo de adaptação social, mas se for em dose que ultrapasse a capacidade de regulação, irá produzir efeito neurológico negativo — salientou.
Na França, revelou a palestrante, foi adotado m 2005 programa de saúde que ampliou a assistência à mulher, desde a gravidez até a primeira infância da criança, com o objetivo de prevenir o estresse. A intenção é garantir uma condição de segurança emocional, a partir da identificação de situações que estejam causando inquietações e angústias, com suporte para a solução dos problemas. Atuam equipes com formação multidisciplinar.
O último palestrante, Alfred Sholl-Franco, destacou o avanço de novos paradigmas em educação, com o suporte de conhecimentos da neurociência. Conforme assinalou, trata-se da neuroeducação, no campo de interseção entre educação, mente e cérebro. Para que os avanços sejam incorporados ao ensino, ele apontou a formação dos professores como requisito indispensável.
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Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)
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