quarta-feira, 19 de março de 2014

Pessoas com síndrome de Down têm relacionamentos sim...



Postado por Maria Célia Becattini

Namoro Sério - Famílias compartilham experiências e especialistas dão dicas para que, no compromisso entre esses jovens, o amor e a informação superem qualquer barreira ou preconceito.

Por Priscila Sampaio Fotos Ricardo Alcará e Shutterstock

Casal Otavio e Daniela: ambos têm síndrome de Down e namoram há um ano e meio


Antigo tabu na medicina, longevidade dos Down traz questões para além do universo infantil

O que seria só mais um encontro do grupo Vamos Juntos* - dessa vez em um karaokê de São Paulo -, para Luis Otavio Almeida foi um momento especial. Ele conheceu Daniela Aparecida Lamim, olhou para seu rosto e sentiu algo: "Meu coração bateu muito forte, uma emoção que crescia dentro de mim, e ela é linda, mas é mais que isso, ela é legal!", afirma o apaixonado de 31 anos. Já Daniela, de 25 anos, viu o rapaz se aproximar e quando tocou em sua mão sentiu uma forte emoção. "Eu olhei para a boca dele e gostei, achei o Luis muito lindo", diz. Luis Otavio e Daniela têm síndrome de Down e namoram há um ano e meio. 
O namoro entre pessoas com a síndrome é comum e saudável. No entanto, alguns pais se veem em uma situação difícil e delicada quando se trata do relacionamento afetivo de seus filhos com Down. Uns aceitam e acham necessário, enquanto outros, por razões diversas, são contra um envolvimento sério, mas aprovam algum relacionamento. 
Conceição Maçães, dona de casa e mãe de Kátia, de 34 anos, percebeu que a puberdade da filha chegou aos 8 anos e com ela havia florescido a sexualidade da menina. Aos 16, Kátia apresentou o primeiro namorado para a mãe - a relação durou dois anos, mas ficou somente na escola. "Eu achei engraçado, legal e já sabia que dali não passaria, tanto que ela nunca disse que queria levá-lo em casa e eu também não o convidei. O namoro é uma coisa boa da vida, mas só na escola", diz Conceição. 
A mãe não conversou com sua filha sobre sexo. "Nunca falei com ela sobre isso, e não tive esses tipos de diálogos, mesmo porque eu acredito que minha filha não vai passar de namoro de abraço e beijo", afirma. 
Sobre casamento e sexo, Conceição é categórica em dizer que é contra. "Sexo para mim é só após o casamento. No caso de Kátia, não quero que ela tenha relacionamento sério, tampouco o casamento. Eu gostava muito da família do primeiro namorado dela, porque pensava igual a mim. Namoro é para se divertir, se distrair." 
De acordo com Conceição, Kátia é muito fechada e não dá abertura para uma conversa íntima, o que acaba dificultando um diálogo sobre sua vida emocional. 

Outro lado da moeda 
Com base na filosofia da abertura, no entanto, Bento Aparicio Zanzini e sua esposa, a publicitária Marivone de Castro Zanzini, conduzem as orientações para o filho Caio, de 23 anos. Seu interesse por meninas começou aos 13. De acordo com a mãe, a sexualidade do rapaz ficou aflorada, e nessa mesma época ele começou a namorar uma colega de escola. A publicitária percebeu o relacionamento em uma carona que ela deu à menina. "Eles estavam no banco de trás e começaram a se beijar e abraçar. Então vi que o carinho era além da amizade." 
Preocupado, o pai tomou a frente e teve uma boa conversa com o filho. Zanzini, de forma didática, explicou para Caio como lidar com masturbação, camisinha, relação sexual e regras sociais para o namoro, de forma que matasse a curiosidade do menino. A conversa séria, da qual a mãe não participou, ficou como um segredo entre os homens da casa. 
A família é de total acordo com o namoro entre pessoas com síndrome de Down. Segundo Marivone, a liberdade para o namoro é um direito que elas têm, desde que este seja de forma saudável e bem orientada, até mesmo para quando surgir o casamento, com sentimentos verdadeiros. Ela apoiará seu filho se ele casar.

Muitos preferem acreditar que os filhos com Down não sejam capazes de compreender os cuidados necessários para o sexo seguro.

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