Postado por Maria Célia Becattini
A auxiliar de inclusão Sabrina Machado Minhos, 36, cuida de Lucas Natã da Silva, 5, desde 2013, quando começou a trabalhar numa escola municipal em Esteio (RS). Frustrada com as limitações do menino com paralisia cerebral, ela fez um macacão que prende Lucas ao seu corpo e lhe dá movimentos.
Sabrina Minhos brinca com Lucas em escola de Esteio (RS)
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...Depoimento a PAULA SPERB
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Há 14 meses eu trabalho com o Lucas. Minha função é mantê-lo limpinho, já que ele usa fraldas. Também tenho que alimentá-lo, porque ele não consegue segurar os talheres. Transporto ele de uma atividade a outra da escola.
Essas seriam as minhas funções, mas eu tinha um desejo maior. O olho dele brilha convidando para levá-lo à brincadeira. Ele é um menino feliz. Não existe tempo ruim para ele, só tempo bom. A situação dele me comove.
Cheguei à escola em junho de 2013. Ele era o menino que ficava sentadinho cheio de almofadas porque caía para os lados.
Eu ficava frustrada porque ele tem uma mente perfeita. É uma mente sã em um corpo que não responde.
Em uma reunião de formação do Centro de Educação Inclusiva (Cemei), falei que se eu pudesse arrancaria minhas pernas para ele poder caminhar.
Eu não sou pedagoga, sou técnica em hidrologia e tenho um contrato emergencial. A coordenadora me explicou que eu não podia pensar assim porque me frustraria muito. Ela tinha razão, e decidi fazer alguma coisa.
No começo, de tanto carregá-lo, tinha que tomar remédio para dor na coluna. Não conseguia deixá-lo de fora das brincadeiras.
Pensei: "Tem que existir um colete onde meu corpo sirva como um poste para ele ficar de pé".
Eu falava e todos me olhavam com cara de interrogação, mas eu sabia o que queria. Pesquisei na internet e não encontrei nada.
Nas férias, fiz dois protótipos. O macacão atual é o terceiro, com total aprovação da fisioterapeuta dele.
Não queria que ele ficasse preso nas minhas pernas porque ele tem habilidade para dar passos, só não se equilibra. Queria que o colete tivesse ganchos para adaptá-lo ao balanço, ao escorregador.
Não podia ficar molinho como uma roupa, ele tinha que se sentir seguro. Tem baixo custo: usei plástico de embalagem de detergente para os filamentos das costas.
Eu que costurei, sou costureira de formação. O jeans foi doado à escolinha para fazermos almofadas. É um tecido para decoração que ganhamos do pai de um aluno.
REGULAGENS
O macacão tem regulagens, assim ele pode ficar de pé ou sentado na mesinha para comer com os colegas.
Quando a turminha vai pintar, fazer colagem, ele se senta junto, sem a cadeira de rodas, totalmente incluído.
Desde o começo, o Lucas já adquiriu firmeza de pernas, de coluna. O desejo de brincar era intenso. Ele esticava as mãos pedindo para ver as crianças de pé, ficar no pátio, enlouquecia quando via a bola. Agora ele joga futebol.
O Lucas ama abraçar os colegas dele, de pé. Segura as mãozinhas deles quando brincamos de roda.
Não se trata só de caminhar. Quero incluí-lo na brincadeira. Um dia ele vai caminhar sozinho, eu acredito. Mas ele nunca mais vai ter cinco anos, estar na escolinha. Quero que ele aproveite esse momento de ser criança.
Eu nem imaginei que teria uma repercussão tão grande. Não fiz o macacão para comercializar, fiz para incluir.
Já estou recebendo ligações de mães e avós. É uma alegria poder pensar que vou ajudar outras crianças a ver o mundo da perspectiva do Lucas, de pé, com os objetos na altura delas.
adorei sua ideia.estou pensando em fazer um assim tbm,trabalho com um aluno com paralisia cerebral tbm.
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