Que sono! Pessoas com síndrome de Down têm tendência a desenvolver problemas para domir
Crédito da imagem: Sarah Horrigan/Flickr
Dormir uma boa quantidade de horas todo dia é fundamental para a saúde. Entretanto, problemas como a apneia do sono, o bruxismo e o sonambulismo podem prejudicar a qualidade do descanso ou mesmo impedir um sono tranquilo. Pesquisas e estudos de caso apontam que pessoas com síndrome de Down podem apresentar dificuldades para dormir desde a infância.
A criança ou o adulto que não dorme satisfatoriamente muitas vezes apresenta sonolência e falta de atenção durante o dia, o que pode ocasionar problemas de aprendizagem. O sono de baixa qualidade também afeta o humor, gerando irritabilidade. Por isso, é importante procurar um profissional de saúde o quanto antes e buscar um tratamento para a origem do problema. “Há cerca de seis meses, percebi uma dificuldade do meu filho durante o sono, parece que tem algo obstruindo a respiração. Cheguei a pensar que ele tivesse colocado um corpo estranho no nariz, mas não havia nada. Quando ele não dorme bem, fica agitado e nervoso, mal-humorado”, conta a gerente Rosangela Luz, mãe de Heitor Nathan, que tem quatro anos e nasceu com síndrome de Down.
“Quando ele não dorme bem, fica agitado e nervoso, mal-humorado.”
Rosangela Luz
Apneia do sono é o problema mais comum
De acordo com um artigo publicado por especialistas do Cincinnati Children’s Hospital Medical Center da Universidade de Cincinnati, nos Estados Unidos, crianças com síndrome de Down possuem uma predisposição para o desenvolvimento da síndrome da apneia do sono obstrutiva – o problema pode afetar 45% dessas pessoas.
A apneia obstrutiva do sono ocorre quando as vias respiratórias estão tão bloqueadas que a criança não consegue consumir oxigênio suficiente durante o sono. Quando a pessoa tem apneia, essa ausência de fluxo de ar pelo nariz e pela boca dura pelo menos dez segundos. Isso causa problemas de sono e irritabilidade na manhã. Se a apneia obstrutiva resultar em uma redução crônica da oxigenação do sangue durante o sono, pode aumentar a pressão sanguínea nos pulmões, o que é chamado de hipertensão pulmonar. Essa hirpetensão faz mal para o coração e pode causar danos crônicos.
Características físicas associadas à síndrome de Down como pescoço curto, hipertrofia das amígdalas e adenoides, queixo pequeno, língua de tamanho menor, diminuição do tônus muscular e tendência à obesidade favorecem o aparecimento de apneias durante o sono.
A síndrome da apneia do sono obstrutiva pode ser causada por problemas de saúde como a obstrução completa ou parcial das vias respiratórias, hipoventilação obstrutiva crônica (ventilação inadequada com a chegada de ar insuficiente aos pulmões) com hipercarbia (excesso de dióxido de carbono no sangue) e hipoxemia (quantidade menor que o normal do oxigênio no sangue).
A síndrome da apneia obstrutiva do sono pode ser identificada após o surgimento de manifestações clínicas como o ronco intenso (embora nem toda pessoa que ronque tenha apneia) e pausas na respiração durante o sono. Também podem ser observados movimentos anormais e específicos, além de posturas pouco habituais, como sentar-se na cama ou inclinar-se para cima e respirar com a boca aberta.
Tratamento pode incluir intervenções cirúrgicas e uso de medicações
Outro problema que pode aparecer com maior frequência em pessoas com síndrome de Down e que atrapalha o sono é o bruxismo, uma disfunção causada pelo ato de apertar ou atritar os dentes. O hábito, que pode ser diurno e noturno, sobrecarrega a arcada dentária e os tecidos que dão suporte a região, podendo causar enxaquecas regularmente. Além disso, é importante ter atenção a problemas que são relativamente comuns para todas as pessoas, sobretudo durante a infância, como sonambulismo, insônia e terrores noturnos.
Os tratamentos para problemas que atrapalham o sono variam de acordo com cada caso e podem incluir terapias de educação postural, intervenções cirúrgicas para remover obstáculos à respiração (como amígdalas e adenoides), uso de medicações e psicoterapia. Independentemente do problema, é fundamental que haja um aconselhamento profissional – de preferência com um profissional que conheça as especificidades relativas à síndrome de Down – para evitar que o quadro se agrave e que o desenvolvimento físico e intelectual da pessoa seja prejudicado.
Confira abaixo o depoimento de familiares de pessoas com síndrome de Down que têm ou já tiveram problemas para dormir postados na página do Movimento Down no Facebook. Os relatos mostram que a dificuldade pode ter diversos motivos e ocorrer em várias fases da vida.
“Quando meu filho era pequeno também tinha problemas para dormir. Ele operou garganta e nariz e isso resolveu o problema”
Noemi Moreira
“Meu filho tem sete anos e é hiperativo, não consegue dormir e passa a noite inteira virando de um lado para o outro. Não sei mais o que fazer, pois nem ele dorme, nem eu.”
Liliana Catarina
“Tenho um filho com síndrome de Down. Ele tem 35 anos e toma remédios para dormir, mas tem noites que não tem jeito. Aí fica cansado, com olheiras…”
Noemi Moreira
“Eu tenho uma irmã de 18 anos que tem síndrome de Down e não consegue dormir de jeito nenhum à noite. Ela tomou remédios para dormir durante um tempo e até funcionou. Mas eu queria um método mais natural.”
Larisse Gomes
“Minha filha vivia sonolenta durante o dia. Demorei a perceber que tinha um sono muito agitado. Através de uma tomografia, descobriu-se que ela tinha desvio de septo. Foi operada e hoje dorme tranquila.”
Maria Lúcia de Agostinho
“Tenho uma filha chama da Claudia que tem dez anos. Ela sempre roncava muito, às vezes eu acordava à noite e a encontrava dormindo sentada. Ela fez cirurgia de adenoide e garganta e melhorou bastante, mas ainda ronca um pouco pois tem uma rinite alérgica que está difícil de controlar.”
Maria Helena Pagotto Maia
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