Postado por Maria Célia Becattini
A paralisia cerebral (PC), também conhecida como encefalopatia crônica, representa uma das causas mais comuns de incapacidade motora na infância, incidindo em 7 a cada 1.000 crianças nascidas vivas nos países em desenvolvimento1. Trata-se de um grupo de desordens do movimento e da postura que resultam em limitações do desenvolvimento motor normal. Tais desordens são atribuídas a perturbações não progressivas que acometem o cérebro ainda imaturo, podendo ocorrer antes, durante ou após o nascimento2.
As alterações motoras ocasionadas pela PC são, na maioria dos casos, acompanhadas por distúrbios de sensibilidade, cognição, percepção, comunicação, comportamento e alterações musculoesqueléticas secundárias2. Além disso, as consequências físicas refletem as dificuldades sociais e psicológicas, tanto para o paciente quanto para sua família. Assim, crianças com limitações funcionais crônicas tais como as ocasionadas pela PC, apresentam dificuldades nos aspectos sociais e comportamentais, quando comparadas a crianças com desenvolvimento normal.
A PC vai além dos déficits físicos e cognitivos. As crianças portadoras de tal condição convivem com dificuldades diárias para interagir com os colegas, bem como, frequentar escolas de educação regular, pois as instituições de ensino, em sua maioria, não estão preparadas para recebê-las de uma forma inclusiva. Nos últimos anos, tem-se observado um aumento significativo no número de alunos deficientes matriculados em escolas de nível regular, o que demostra a necessidade de se tomar medidas quanto à inclusão das mesmas. Para isso, é de extrema importância a criação de programas que visem preparar as escolas, não apenas pedagogicamente, mas, espacial e organizacionalmente, para que ocorra a real inclusão dessas crianças³.
A inclusão é um processo que vem ocorrendo de forma gradual. Apesar do movimento mundial pela inclusão, a maioria dos alunos com necessidades educacionais especiais ainda está inserida nas escolas e classes especiais4. Além disso, aqueles que estão inseridos no ensino regular estão alocados em salas de aula com educadores despreparados para recebê-los.
Sabe-se que é responsabilidade das escolas a promoção do conhecimento, a fim de garantir o aprendizado das crianças com deficiências, dando-lhes garantia e dignidade para o futuro. Visando resgatar o respeito e dignidade humana, ações isoladas de pais e educadores têm promovido a inclusão de pessoas com algum tipo de deficiência ou necessidade especial nas escolas5. Tais ações possibilitam o pleno desenvolvimento e o acesso a todos os recursos da sociedade por parte desse segmento.
A sociedade necessita de mudanças em sua forma de enxergar pessoas com necessidades especiais, não só crianças com paralisia cerebral, mas com quaisquer tipos de deficiência5. A prática da inclusão de portadores de deficiência deve ser parte integrante de planos nacionais de educação, que objetivem atingir educação para todos. É preciso uma mudança de atitudes e formação adequada das pessoas que devem interagir com crianças nos contextos educativos, tanto os professores como familiares e colegas.
São muitas as pessoas com características variadas, o que demostra a necessidade aprender a lidar com a diferença. Tal aprendizado deveria estar no currículo escolar e de vida de cada um e cabe a todos os integrantes da sociedade lutar para que a inclusão social dessas pessoas seja uma realidade brasileira. A inclusão social das pessoas com deficiências, como no caso da paralisia cerebral, significa torná-las participantes da vida econômica, política e social, garantindo a elas o respeito e direitos no âmbito da Sociedade.
Deisiane Oliveira Souto
Mestranda pelo Programa de Pós-graduação em Neurociências – UFMG
Bacharel em Fisioterapia – PUC Minas
Referências:
1- PANETH, N.; HONG, T.; KORNENIEWSKI, S. The descriptive epidemiology of cerebral palsy. Clin Perinatol, v. 33, n. 2, p. 251-267, Aug. 2006. AVRAMIDIS, Elias e NORWICH, Brahm. Teachers’ attitudes towards integration / inclusion: a review of the literature. Eur. J. of Special Needs Education, Vol. 17, No. 2 (2007), pp. 129–147.
2- FONSECA, L. F. Abordagem neurológica da criança com paralisia cerebral: causas e exames complementrares. In: LIMA, César Luiz Ferreira de Andrade; FONSECA, Luiz Fernando. Paralisia cerebral: neurologia, ortopedia, reabilitação. Rio de Janeiro: MEDSI, Guanabara Koogan, 2004. p45-65.
3- SCHWARTZMAN, José Salomão. Inclusão escolar de crianças e adolescentes com paralisia cerebral em escolas/classes regulares.Rev Paul Pediatr 2011;29(3):312-3.
4- KASPER, Andrea de Aguiar; LOCH, Márcia do Valle Pereira e PEREIRA, Vera Lúcia Duarte do Valle. Alunos com deficiência matriculados em escolas públicas de nível fundamental: algumas considerações.Educar, Curitiba, n. 31, p. 231-243, 2008.
5- LINDSAY. L e MCPHERSON A. C. Strategies for improving disability awareness and social inclusion of children and young people with cerebral palsycch_1308 809.2011 Blackwell Publishing Ltd.
6- FERREIRA et al. Accessibility for People with Cerebral Palsy: The Use of Blogs as an Agent of Social Inclusion. Proceedings of IHC+CLIHC’2011 – Technical Session on Assistive HCI.
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